Formada há quase 30 anos em um terreno público, a favela do Jardim Monte Cristo cresce sem controle em Suzano com a venda de pequenos lotes para novas famílias que aceitem pagar de R$ 2 a R$ 5 mil pelo espaço onde construirão seus barracos. Moradores que afirmam ter cadastro nos programas habitacionais da prefeitura reclamam de nunca terem sido encaminhados para empreendimentos populares já entregues na cidade. Segundo eles, falta ação do Poder Público, que sequer faz a demolição das moradias e as mesmas acabam sendo comercializadas.
A comunidade, que inicialmente estava instalada nas margens da avenida Mogi das Cruzes, foi removida para o fundo do terreno há mais de dez anos, quando a área foi parcialmente ocupada pela Faculdade Piaget. "Na época não foi resolvido o nosso problema, só nos empurraram aqui para trás do muro da faculdade. Muitas famílias vivem aqui até hoje, mas os mais antigos não são chamados para os prédios", explicou Lutemberg Lopes, que mora na favela há 27 anos.
Os prédios a que ele se refere são os empreendimentos construídos por meio do programa "Minha Casa, Minha Vida" para receber moradores de áreas de risco, como o entregue na avenida Paulista em 2016, no próprio bairro, que abrigou moradores da favela. "Consegui me mudar para os apartamentos após mais de 20 anos aqui, mas minhas filhas e sobrinhas estão cadastradas há quase dez anos e até agora não foram chamadas", detalhou a catadora Marcia Gomes, de 40 anos.
Cadastrada há seis anos na Secretaria de Habitação, Crisdaiane Gomes, 24, afirma que seu nome não consta no sistema municipal. "Por mais de uma vez estive na prefeitura e agora eles dizem que eu nem sou cadastrada, o que não é verdade. Aqui mesmo na favela já vieram várias vezes pegar nosso nome e fazer nosso cadastro".
Crescimento
De acordo com os moradores que falaram com o Dat, pelo menos 200 barracos foram construídos recentemente no espaço público. Isso porque uma moradora da favela estaria comercializando os casebres deixados por famílias sorteadas em programas habitacionais que, por sua vez, vendem o espaço após deixarem o local. "Essa moradora é de São Paulo, veio para a favela e está fazendo dinheiro. Ela pega esses terrenos, divide em lotes e vende para quem quiser morar aqui", detalhou.
Márcia ressaltou ainda que a prefeitura não faz a demolição dos barracos desocupados, o que facilita a ocupação das moradias novamente. "Ninguém vem aqui ver o que está acontecendo, ninguém toma conhecimento dessa venda de lotes e com isso a favela está crescendo a cada dia", completou.