Quase nos estertores da ditadura, o general que "presidia" a nação, em frase lapidar, anunciou em alto e bom tom que preferia o cheiro do cavalo ao do povo. Em poucas palavras, assim, nos colocou abaixo de animais irracionais, ao tempo que fez ver que ao seu "fino" olfato, acostumado ao fétido odor das cocheiras onde passara a vida militar, o cheiro que emanávamos, dava-lhe asco, embrulhava o seu "sensível" estomago.
Pelos cantos, de maneira oculta, ouviram-se cochichos de repulsa ao descalabro; aqui ou acolá, um ou outro, tentou ser mais enfático no desagravo à Nação. Há que se convir, no entanto, que, vigente os poderes dos Atos Institucionais, e época do "prendo e arrebento", pouco se podia fazer na busca do reparo da honra ofendida.
Passados os anos, eis que nova pérola é arrotada por candidato à vice-presidência da República, senhor parlapatão por natureza, que ainda não entendeu que o palco das ruas não é extensão de seus quartéis; não intuiu que a obediência cega com a qual se acostumou, ficou no passado da caserna; não descobriu que somos homens livres, que não nos submetemos aos desmandos de um tresloucado qualquer.
Do "alto de seu conhecimento", o oficial da reserva Antonio Mourão nos tratou, agora, como equino que precisa de ginete destemido, "com luvas de seda, cintura de borracha e pernas de ferro", por certo para que seja montado e domado.
Não aceito, obviamente, a comparação estapafúrdia - se bem que me sinto "promovido", eis que agora já me comparam a cavalo, bem a gosto do antigo senhor feudal - provinda do infeliz dito de pessoa sem a mínima condição de reserva de estadista, e que tem primado, conforme escrito, pelas besteiras que vocifera. Se um dia já fui boi como se recita em "Disparada", certo dia me montei, e hoje sou cavaleiro, laço firme e braço forte, em reino que não tem rei.
Se quer cavalgar, que o faça, o general, nos prados ou arreie os que lhe devem subserviência.