Campanhas de conscientização surgem como um alerta para a população sobre problemas que, à primeira vista, não são percebidos como uma matéria de urgência, mas minam a saúde e o bem-estar de toda uma comunidade. Foi assim com temas como a saúde da mulher, a saúde do homem, a importância da amamentação na formação de uma infância sadia e doenças como hipertensão e outras.

A campanha do Agosto Lilás surge como uma necessidade da população em combater um dos piores tabus que já tiveram vigência em nossa sociedade: a falsa neutralidade diante de um caso de violência contra a mulher. Nascida em 2016, no estado do Mato Grosso do Sul, a causa abordou os dez anos de um dos primeiros avanços civilizatórios do Brasil no século XXI: a Lei Maria da Penha.

Nesta semana, completaram-se 16 anos do fim da normatização da violência, do feminicídio, do torpe e hipócrita argumento da honra masculina acima de tudo. Décadas de músicas, filmes, comédias e piadas de botequim instalaram no inconsciente coletivo o direito sagrado à agressão, e a obrigação sagrada de se silenciar. "Em briga de marido e mulher" é parte de uma rima que, por muito tempo, sancionou um pacto de violência e abusos que já vitimaram incontáveis mulheres - um prática que, aos poucos, se descola de nossa imagem como sociedade.

Nada se materializa em nossa sociedade: tudo é fruto de muita luta. De luta e exemplos de grupos, associações, coletivos e lideranças que nunca aceitaram caladas a violência e o medo. Estas mulheres podem e devem ser lembradas diariamente, com respeito e admiração, por suas contribuições, que se converteram em lei, em patrulha, em políticas públicas e em um novo modo de pensar.

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) fez, às portas fechadas, reacender a violência contra a mulher. Esforços compartilhados por todos buscam mitigar não apenas as ocorrências, mas os efeitos que ficam na pele. A vinda do Anexo de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Mogi das Cruzes é a consolidação do combate à prática, que deve ser contínua e reforçada e respeitada por todos neste mês de agosto e ao longo de todo o ano.