Mentira até na verdade? Em julho tivemos a primeira deflação oficial. Fruto da redução dos impostos e dos preços controlados pela Petrobras. Mas e a inflação real? Aquela que todo mundo sente na hora de fazer as compras no mercado, no leite por exemplo? Essa não dá sinais de queda.
Os preços em geral continuam pressionados e serviços, como passagens áreas, subiram 123% nos últimos 12 meses. Cada um tem sua inflação própria. Quem não consome leite ou carne não sente a inflação desses itens. Quem não voa também. Mas a grande maioria da população, que compra arroz, feijão, leite, carne sentiu e sente uma inflação muito maior daquela registrada nos índices oficiais. É a inflação de verdade, do dia a dia, que corrói o poder de compra, principalmente dos mais pobres.
O aumento temporário de cinco meses do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, o vale caminhoneiro de R$ 1.000 e o vale taxista de igual valor injetarão mais dinheiro na economia, algo perto de R$ 42 bilhões. Dificilmente os beneficiários irão poupar, investir ou utilizar esses valores para quitar dívidas. Tudo será direcionado ao consumo o que pode gerar maior pressão sobre os preços.
Além desse problema imediato podemos assistir ao aumento do endividamento pela maior margem de crédito consignado, agora em 45%. Se uma pessoa recebe um benefício de R$ 1.212 poderá comprometer até R$ 545,50 para o empréstimo e assim terá que sobreviver por 24, 36 ou 48 meses com R$ 666,50. Será que dá? Se com o salário mínimo, que não tem reajuste real desde 2018, já é difícil, imagine com apenas 55% dele?
O consignado está superendividando os brasileiros, principalmente os mais pobres que diante de suas prementes necessidades e sem qualquer noção financeira são fisgados pela oferta de dinheiro imediato e ficam por meses presos, sendo apenas substituído por outro empréstimo com um pequeno troco. Vamos sobrevivendo, com a deflação oficial artificial e a inflação real, cientes que a conta dessa lambança toda ainda vai chegar.
Cedric Darwin é mestre em Direito e advogado.