Uma das definições mais precisa de “capacho” é a que designa esse termo à pessoa que é servil e bajuladora. É aquele tipo de pessoa que defende quem tem aquilo que ela não tem, mas imagina que terá. Não terá.

Todo mundo conhece alguém que é assim. Até algum tempo atrás, pessoas assim eram sempre malvistas, eram desprezíveis mesmo. Hoje já não sei. Com tanta exposição de ignorância nas redes sociais, creio que muitos nutrem admiração por bajuladores. Assim como admiram mentirosos, torturadores, fascistas, milicianos e por aí vai.

Por exemplo, o Brasil tem 55 bilionários. Vejam só, apenas 55 de acordo com a lista da Forbes de 2025. No entanto, quando vemos a quantidade de pessoas que defendem os interesses dos bilionários brasileiros, podemos cair no erro de imaginar que eles são milhões.

É só tomarmos como exemplo o esforço do governo em isentar do imposto de renda quem ganha até 5 mil reais, compensando a perda de receita com uma tímida taxação do 1% mais ricos do país. Existe uma horda de deputados, representantes de milhões de eleitores (parte deles paupérrimos), berrando contra tal medida. 

Mas não é só no parlamento. Boa parte da grande mídia brasileira, faz coro com esses deputados. Mas é compreensível. Alguns dos donos dessas redes pertencem ao seleto grupo. Agora, quando isso vem de um acadêmico, até bem-conceituado, como o ex-ministro Armínio Fraga, aí é demais. Sua declaração – “Armínio Fraga volta a defender congelamento do salário mínimo por 6 anos: ‘seria espetacular para os pobres’”, é uma bajulação explícita aos seus patrocinadores.

Vamos aos fatos. O Brasil tem hoje uma das menores taxas de desemprego da sua história. E a maior parte dos empregos gerados estão na economia formal. Apresenta também um forte crescimento do PIB, 2023 e 2024 superando todas as estimativas de um mercado financeiro isento que nem um tal juiz. Os salários com aumentos acima da inflação.

No entanto, vem o Armínio, relembrando um tal do Guedes que criticava o fato das domésticas irem para Disney, e diz que tem que congelar o salário mínimo por seis anos? Será que os trabalhadores que estão suando a camisa para conseguir ter um mínimo de decência na vida endossam tal fala?
Nossa elite é de uma depravação desmensurada. Ela não saiu da senzala e quer manter os outros nela.
Necessitamos urgentemente de uma subversão ampla, geral e irrestrita. 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor