Recentemente na gravação de um programa de TV, me perguntaram nos bastidores, se eu não gostava da minha mãe, e rapidamente fiz a réplica que sim, surpreso com a pergunta, questionando o interlocutor sobre o motivo do conteúdo. O apresentador afirmou que nos meus livros eu falo mais do meu pai. Reforcei que as citações direcionadas a ele, aconteceram por conta do incentivo aos estudos que eu recebia mais do lado paterno, mas não significa que o fato da minha mãe não contribuir diretamente com esse assunto, me distancia da sua representação.
Esse acontecimento me lembrou alguns atendimentos psicanalíticos que eu realizei, quando os filhos (pacientes) fixam uma identificação com um dos responsáveis legais, alegando que o pai ou a mãe foi mais amável, paciente ou empático que o outro. De fato, isso pode até ser verídico, o problema é quando se compreende que talvez a falta de apoio específico em alguma área de relacionamento correspondente a falta de amor.
Minha mãe, nordestina que morreu analfabeta, era mais realista e pessimista. Desde criança se infiltrou em um mundo adulto de sobrevivência, autoritarismo e machismo. Trabalhou como faxineira, morou em favela, vivenciou a violência, morou em barraco, lutou por uma vida digna, fez o que pode com o que tinha, porém sem sonhos e nem perspectiva, queria viver, pelo menos bem.
Sua realidade de vida a fez ser mais pé no chão, e naturalmente, a sua educação comigo era para seguir esse caminho, algo que demorei a entender na adolescência, e se tivesse praticado na época, sofreria menos hoje. E o meu pai, apesar do contexto de vida parecido, olhava a vida com alegria e com sonhos, me transmitiu isso e escolhi mais essa mensagem. Algo que me impulsionou a sonhar e a me iludir.
Na comemoração que acontece do Dia Internacional da Mulher, eu quero destacar a mulher e mãe que eu tive. Uma guerreira e lutadora que faz parte da minha transformação. Ser mulher e mãe, não é para qualquer uma. Parabéns, Dona Maria!
Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.