Em tempos de globalização, é razoável imaginar que a maior parte dos aspectos que tangenciam nossas vidas esteja globalizado. Afinal, globalização é um conceito que compreende a integração econômica, social e cultural do espaço geográfico do nosso planeta.
Por mais que ela incida também sobre aspectos sociais e culturais, é particularmente no âmbito da economia que seus impacto são mais perceptíveis. A globalização gerou crescimento e prosperidade sem precedentes. No entanto, ela também exacerbou as desigualdades, tanto entre nações quanto dentro delas.
Ela flexibilizou fronteiras objetivas e subjetivas entre países, permitindo uma livre movimentação das unidades de produção e do capital. Sempre de acordo os interesses dos donos dos meios de produção. Porque na verdade, o mesmo não se verificou em relação às fronteiras físicas para a movimentação das pessoas.
E na verdade, a exacerbação das desigualdades sociais decorrente desse processo, implica não apenas em reavaliar as práticas comerciais e de investimento vigentes hoje, mas também na implementação de políticas de proteção social, educação e requalificação da força de trabalho, para garantir que os benefícios da globalização sejam mais amplamente compartilhados, contribuindo assim para amenizar o drama da crise migratória que testemunhamos hoje.
Tal crise coloca dezenas de milhões de pessoas na condição de refugiados em todo o mundo. E esses refugiados são pessoas que saíram de maneira forçada de seus países para buscarem refúgio e uma oportunidade de restruturação de suas vidas em outros países, motivados por conflitos militares e/ou a miséria a qual estão submetidos.
A globalização é um fenômeno que surge e se desenvolve pela ótica do mercado. E as relações de mercado são a fonte das ideologias presentes no modo de produção capitalista. E hoje, são os agentes financeiros que manipulam o mercado.
Isso fica evidente no exemplo que vou citar. Em matéria do InfoMoney, do dia 22 do corrente mês, traz a seguinte manchete: “Economia da Argentina surpreende e encolhe após medidas de austeridade de Milei “. Os especialistas do mercado esperavam um crescimento de 0,9%. E na verdade houve uma queda de 0,3%.
Já no Brasil, os especialistas do mercado previam, no início do ano, um crescimento do PIB em torno de 1% e na verdade, a última estimativa feita pelo IPEA é de um crescimento de 3,3% para esse ano.
O que explica esses erros grosseiros de avaliação, a ideologia do mercado. A Argentina é governado pelo Milei, um presidente extremamente conservador, subserviente aos interesses do mercado. O Brasil é governado por um homem progressista, que não é subserviente aos interesses do mercado. Simples assim.
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.