Publicado pela primeira vez no dia 4 de julho de 1865, o livro: “Alice no País das Maravilhas”, completou 159 anos de vida com saúde e disposição. A obra literária que transcende gerações e continua a inspirar adaptações cinematográficas, peças teatrais e outras formas de arte, continua chamando a atenção de todos os públicos por uma característica comum no “mundo das fantasias” : fazer o seu público perder o contato com a realidade.

A obra clássica da literatura inglesa, escrita por Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo seu pseudônimo Lewis Carroll, que foi romancista, contista, fabulista, poeta, desenhista, fotógrafo, matemático e reverendo anglicano britânico, apresenta uma linguagem instigante e imaginária, em uma narrativa aparentemente infantil, que explora temas como a identidade, o absurdo e a lógica, a complexidade do mundo, simbolismos e temas profundos que apresentam diferentes perspectivas.

A versão do cinema do ano 1951 -  a qual eu particularmente gosto mais - tem uma profunda filosofia de vida, quando a garota Alice se sente cansada da monotonia da vida.

Se esse mundo fosse só meu,
 Tudo nele era diferente.
 Nada era o que é, porque tudo era o que não é.
 E também tudo que é, por sua vez, não seria.
 E o que não fosse, seria…

Essa jovem curiosa que cai em um buraco de coelho e entra em um mundo fantástico e surreal, que encontra personagens peculiares como o Chapeleiro Maluco, a Lagarta Azul, a Rainha de Copas e o Gato de Cheshire, nos ensina que  a monotonia da vida, ou o que o personagem brasileiro Brás Cubas, em sua Memórias Póstumas, chama de “melancólica humanidade”, que para enfrentar a dura realidade da vida é aceitável o “estado de psicose”, que envolve o desconectar da realidade. Porém, esse desligamento do mundo real, para um aproveitamento ao acordar, precisa envolver mensagens de autodescobrimento e do enfrentamento das incertezas da vida, assim como fez Alice, pois viver em um mundo ilógico já está bom para enfrentar.


Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no Divã” e “A vida de cão do Requis”.