O Brasil vive novamente, uma epidemia de dengue. O país alcançou a marca dos 1.601 óbitos por dengue confirmados em 2024. Além disso, outras duas mil mortes seguem em investigação e podem ter sido causadas pela doença, totalizando 3,6 mil mortes confirmadas ou suspeitas até o momento.

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Para efeito de comparação, em 2023 tivemos aproximadamente 1.100 mortes causadas pela dengue, um recorde histórico. Ainda não terminamos o 4º mês do ano e já superamos a marca de todo ano passado, o que significa um aumento de 35%, quando comparamos os números registrados nos doze meses de 2023 com um período inferior a quatro meses de 2024. Em relação aos casos prováveis da doença, esse número chega a 3,6 milhões em 2024, contra 1,649 milhão em 2023, aumento de 114%. Já o coeficiente de incidência de casos por 100 mil habitantes cresceu de 773 em 2023 para 1.741 casos prováveis para cada 100 mil brasileiros em 2024.

Entre os casos em que a doença evolui para óbito, a principal vítima é a população idosa. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença tem sido mais letal para esse segmento, justamente a parcela da população que não tem recomendação de ser vacinada.  

Além do aumento do número de casos de dengue, outro fato tem preocupado a sociedade brasileira. O mosquito Aedes aegypti não é transmissor apenas da dengue.  Desde 2013 há registro de caso da chamada “febre chikungunya” também transmitida pelo mesmo vetor. Mesmo sendo menos grave que a dengue hemorrágica, essa febre causa grandes prejuízos à saúde pública e à produtividade. O Zika vírus também é transmitido por esse mosquito.

São muitos os motivos que contribuem para esse lamentável quadro. Desde o comportamento do cidadão comum que, por falta de informação ou de consciência não contribui para a eliminação ou redução dos locais usados para a reprodução do mosquito, até a omissão das autoridades que insistem em não planejar ações permanentes para o enfrentamento da questão. São muitas as variáveis que conspiram para que números tão constrangedores se instalem no país.  

Mas tem também outro tipo de culpa que precisa ser reafirmada com todas as letras. É inegável que a convivência com a crise hídrica e a seca tem, em muitos momentos, motivado as pessoas a armazenarem água sem os devidos cuidados, o que acaba propiciando a proliferação do Aedes aegypti. E o principal responsável por isso não é aquele que armazena a água sem os devidos cuidados. A maior responsabilidade por esse importante aspecto que contribui para o aumento da dengue e outras doenças, deve ser atribuída aos governantes que não agem para garantir o abastecimento de água para toda a população. 

 

 Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor