A América Latina é marcada pelo intervencionismo estatal na economia, pelo baixo nível de renda da população e pelo alto grau de corrupção no setor público. Nicolás Saldias, analista para a América Latina, afirma: "As pessoas falam de uma 'maré rosa', mas o que está acontecendo é uma maré contra os candidatos que buscam a reeleição, sejam de direita ou de esquerda". Christopher Garman, cientista político, diz que a esquerda está ganhando as eleições nos países sul-americanos porque estão dominados por um profundo sentimento de desencanto com o sistema - aí incluídos os partidos, as lideranças políticas e o Judiciário.

José Fucs, jornalista, diz que a economia comandada pela exportação de commodities, perdeu força. A classe média emergente deu marcha à ré na escala social. Milhões de pessoas voltaram para a pobreza e a insatisfação cresceu de forma considerável. Em ritmo de eleição a esquerda promete a volta dos "anos dourados" de 2003 a 2016, época em que o PT esteve no poder. Sobrava dinheiro no mundo. A China crescia na faixa de 10% ao ano, alavancando a economia mundial. A demanda por commodities como petróleo, minérios, soja e carnes explodiu inundando os países latino-americanos de uma enxurrada de dólares, por serem os maiores exportadores de commodities do planeta. Foi isso e não a ideologia que viabilizou o aumento da classe média e a redução do desemprego.

O governo atual da direita foi prejudicado por ser atingido pela pandemia - confinamento e despesa financeira elevada com a doença. Além disso, juros em alta, a economia global desacelerou, Europa e Estados Unidos no limiar de uma recessão. Os economistas chamam de "estagflação" a combinação perversa de inflação alta com estagnação econômica que vem contagiando a maioria dos países do mundo, pode fazer durar pouco o sentimento de euforia pela ascensão em série de líderes de esquerda na América Latina e desfazer a miragem de "lua de mel" de governo por parte de políticos, intelectuais e militantes do PT.

Mauro Jordão é médico.