O escritor Júlio César de Mello e Souza, brasileiro, autor do famoso livro "O Homem que Calculava" usava o pseudônimo de Malba Tahan, e em sua outra obra "Céu de Alá" nos conta a história de dois xeques que em suas preces pediam a Alá piedade para os felizes, para os que se julgam venturosos, e clemência para aqueles que vivem tranquilos, ditosos e alegres. Surpreso ficou mais ainda quando o ancião da esquerda orou assim: "Faze, Senhor, com que os infelizes vejam no mal que os aflige a dádiva celestial que redime as criaturas preparando-as, no tempo efêmero, para a vida eterna! Senhor esclarece, também, aqueles que erradamente se julgam desventurados!" Curioso, aproximou-se dos dois homens, após o momento da prece, indagando como pode um homem de bem, crente de Alá, implorar a piedade e a compaixão de Deus para os que nadam no mar cor-de-rosa das venturas e aceitar o mal como dádiva celestial; um deles, o sábio Sid Al-Zarif, explicou sua nova teoria do mal: "Toda a minha filosofia, a única aceitável e verdadeira, baseia-se no seguinte princípio: 'O mal não existe. O mal é um bem que não se conhece.' É preciso que os homens se convençam de que, neste mundo, as punições divinas são ensinamentos e não infortúnios". O provérbio popular que nos diz que "há males que vem pra bem" não se distancia da verdade, porém, há que diferenciar o mal que praticamos que nos traz como consequência o castigo, conforme o provérbio bíblico que nos alerta: "Quem semeia vento, colhe tempestade", do mal que recebemos, seja fugaz ou permanente, sem que saibamos a razão, se há culpa em nós ou não, ou como herança maldita da Queda do homem no Jardim do Éden. Afirmar que o mal não existe é fechar os olhos a realidade do sofrimento que nos invade. Assim como a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, assim também, o mal pode nos servir de preceptor para nos encaminhar ao bem, mas continua sendo o mal. Senhor livra-nos do mal que busca a destruição do nosso caráter cristão.