A queda em idosos pode causar invalidez e é uma importante questão de saúde pública. A cena de um idoso em cadeira de rodas é mais frequente do que se pode imaginar. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, um levantamento realizado pelo hospital no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde aponta aumento de 75% no número de hospitalizações de idosos por queda de janeiro a junho deste ano em relação ao mesmo período de 2012, passando de 45,7 mil para 74,7 mil, indicando que hoje a queda causa 17 internações/hora. A internação hospitalar por queda representa alto risco de invalidez, e soma mais da metade das internações por causas externas no país.

A pesquisa também mostra que as mulheres correm mais risco. Sofreram no primeiro semestre do ano 45,7 mil (62%) das 74,7 mil internações/queda. Queiroz Neto explica que as mulheres são maioria porque têm mais problemas de visão e diabetes, o que pode interferir no equilíbrio. A população feminina, segundo ele, também tem maior predisposição à osteoporose conforme envelhece devido a diminuição dos estrogênios após a menopausa.

Queiroz Neto ressalta que, de acordo com o ministério, só 20% dos que sofrem quedas precisam de internação. A maioria, 80%, recebe tratamento ambulatorial. Nesta parcela muitos sofrem acidentes oculares, alguns graves, como é o caso das perfurações que podem levar à perda definitiva da visão.

O oftalmologista ressalta que a catarata é a doença ocular que mais contribui com as quedas a partir dos 60 anos. Mais frequente, a doença altera a visão de profundidade e de contraste, e geralmente progride mais rápido em um olho que no outro. A boa notícia é que a cirurgia de catarata reduz em 40% o risco de cair e, o levantamento no Ministério da Saúde mostra que a diminuição dos casos de Covid-19 abriu espaço para a retomada da cirurgia.

No primeiro semestre do ano foram realizados no país 22,8 mil cirurgias de catarata ante 23,6 mil no mesmo período de 2019, depois de uma forte queda no número de procedimentos causado pela Covid-19 nos dois últimos anos. "O problema é que muitos só buscam por tratamento depois de um acidente. Este foi o caso de que um paciente que escorregou em um tapete e teve uma perfuração da córnea com descolamento da íris. Fizemos uma cirurgia de emergência porque a perfuração da córnea pode provocar infecção generalizada e perda da visão. Felizmente a cirurgia correu bem, mas exigiu meses de acompanhamento", afirma Queiroz Neto.

Sintomas

O oftalmologista explica que a catarata resulta da aglomeração de proteínas no cristalino, lente interna do olho, que lentamente vai se tornando opaco. A cirurgia tem indicação quando surge dificuldade para realizar as atividades cotidianas. Os principais sintomas que indicam estar na hora de operar são:

• Troca frequente dos óculos;

• Enxergar halos ao redor das luzes;

• Incapacidade de enxergar com pouca luz;

• Maior sensibilidade à luz e perda repentina da visão dirigindo com faróis contra;

• Visão embaçada que dificulta a leitura;

• Redução da visão noturna;

• Dificuldade de adaptação a diferentes níveis de iluminação;

• Insônia decorrente da menor entrada de luz azul nos olhos que reduz a produção de melanopsina, uma substância que regula o estado de alerta e sono.

Diagnóstico e exames

O diagnóstico da catarata, de acordo com o especialista, é feito durante um exame de rotina. O preparatório da cirurgia inclui exame biométrico da curvatura, espessura e superfície da córnea, tamanho da pupila, imagem do globo ocular com características da íris (parte colorida), vasos sanguíneos que influem na visão, diagnóstico de pequenas imperfeições ópticas que surgem com o envelhecimento e escolha da lente intraocular a ser implantada, de acordo com o estilo de vida, hábitos, expectativa após a cirurgia e presença de comorbidades como diabetes, glaucoma, ceratocone, alterações na retina e mácula.

Como é feita a cirurgia

Queiroz Neto afirma que a cirurgia conta com um sistema que permite a portabilidade dos exames pré-cirúrgicos aos equipamentos para oferecer mais precisão. Na cirurgia o olho é anestesiado com colírio e o paciente recebe uma sedação. Queiroz Neto afirma que a alta ocorre no mesmo dia e a maioria das pessoas fica surpresa com o mundo novo que começa a ver após a retirada do curativo.