"Ele adorava exposições com desenhos grandes. Tinha implicância com exposições de arquitetura caretas. Se era para ter fotos pequenas, ele dizia que era melhor fazer um livro". O depoimento sobre Oscar Niemeyer é de seu amigo e ex-editor da sua revista Módulo, Marcus Lontra, o curador de uma nova exposição do mestre da arquitetura brasileira que será inaugurada em São Paulo.
A mostra "Oscar Niemeyer (1907-2012) - Territórios da Criação" está aberta ao público gratuitamente no Instituto Tomie Ohtake. Planejada em 2017 pelo aniversário de 110 anos do arquiteto, a exposição já passou pelo Rio de Janeiro e por Brasília, antes de desembarcar na capital paulista.
A ideia, segundo Lontra, que fez a curadoria junto a Max Perlingeiro, é trazer um lado mais humano, e menos explorado, da obra de Niemeyer. Os seus grandes trabalhos arquitetônicos são lembrados na mostra a partir de seus desenhos. Cerca de 25 estão na exposição e apresentam os seus traços icônicos em construções como a Igreja de São Francisco de Assis, o Parque do Ibirapuera, o Palácio do Planalto, a Catedral de Brasília e o Palácio da Alvorada, além de muitos outros.
"A arquitetura do Niemeyer evidentemente é muito conhecida, então acho que é importante que trazer um lado mais humano", afirma Lontra. "Pensamos em reunir as atividades dele e o desenho sempre foi o mais básico."
E exposição conta também com desenhos de figuras humanas, especialmente as femininas. Um dos trabalhos, porém, chama a atenção. Já mais velho, ele fez uma versão de O Almoço Sobre a Relva, mais icônico quadro de Édouard Manet. "Neste momento, ele já não estava com um traço tão seguro", esclarece o curador.
Preciosidades
A mostra inclui ainda duas pinturas completamente raras feitas por Niemeyer, intituladas Ruínas de Brasília (1964). Marcus Lontra explica que, antes da inauguração da cidade, o escritor francês André Malraux esteve em Brasília e teria dito ao arquiteto que suas colunas dariam, no futuro, belas ruínas. Anos depois, ao estourar o Golpe Militar de 64, Niemeyer ficou impedido de retornar ao País. Foi quando pintou os dois quadros, que trazem uma visão altamente apocalíptica de Brasília. "Nessa situação de agonia, ele lembrou dessa história das ruínas".
Este primeiro setor da exposição conta ainda com a documentação da revista Módulo, criada pelo arquiteto, e algumas de suas mais famosas peças de design, como a espreguiçadeira Rio.
Seguindo o trajeto expositivo, são apresentados ainda mais dois núcleos. O segundo dos setores da mostra traz os grandes parceiros de trabalho de Niemeyer, entre eles a artista que dá nome ao instituto que abriga a exposição, a artista nipo-brasileira Tomie Ohtake. Para mostra em São Paulo, foi incluída a maquete original do trabalho de Ohtake realizado para o Auditório do Ibirapuera.
"Acho que Tomie e o Athos Bulcão foram os artistas que mais se integraram ao trabalho de Niemeyer", opina o curador, que explica que foi após o trabalho de Tomie internamente no Auditório do Ibirapuera que o arquiteto decidiu finalizar a obra com a famosa "língua" vermelha.
Além de Ohtake e Bulcão, a mostra conta ainda com trabalhos de Alfredo Ceschiatti, Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Franz Weissmann, Joaquim Tenreiro, Maria Martins e Roberto Burle Marx.
Para finalizar a exposição, é apresentada uma série de retratos de Niemeyer ao longo de cerca de 40 anos, feitos por nomes como Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Edu Simões, Evandro Teixeira, Juan Esteves, Luiz Garrido, Marcio Scavone, Nana Moraes, Nani Góis, Orlando Brito, Ricardo Fasanello, Rogerio Reis, Vilma Slomp, Walter Carvalho e Walter Firmo.