"Enquanto tentávamos dormir, ouvíamos o barulho das bombas explodindo. Tínhamos medo. Nossos filhos não podiam mais estudar. Não existia vida". A frase é utilizada pela síria Asmaa Syofi, de 28 anos, para justificar os motivos que a fizeram deixar seu país de origem, devastado pela guerra civil, para refugiar-se em Mogi das Cruzes com seu esposo e três filhos, onde vivem há pouco mais de um ano.
Em 2012, na tentativa de encontrar um local seguro para que pudessem criar os filhos, Asmaa e a família saíram de Damasco, capital da Síria, para tentar uma vida melhor e mais tranquila no Egito. Para isso, deixaram para trás, familiares, casa e todos os bens que haviam conquistado após anos de trabalho, incluindo dois restaurantes de onde era retirado a renda para se manterem. " Foi muito difícil. Mas as pessoas estavam morrendo, não tínhamos outra escolha. E no Egito as coisas não foram fáceis. Ficamos lá por um ano. Não tínhamos documentos, casa e nem trabalho", lembra.
Segundo ela, a decisão de mudar-se para o Brasil surgiu após verificarem a facilidade de conseguir refúgio no País. "Na Europa é muito difícil conseguir abrigo. Muitos tentam e acabam ficando pelo caminho. O Brasil é um bom lugar para os sírios. Hoje, uma irmã também veio morar com a gente. Mas, infelizmente, ainda temos família na Síria e não há como trazê-los, pois a viagem é muito cara", comenta.
Para a refugiada, a falta de trabalho e o custo de vida no Brasil é uma das principais dificuldades enfrentadas desde que mudaram-se para Mogi, há um ano e dois meses. "O aluguel da casa é caro. Eu não trabalho, pois cuido das crianças e do meu marido. Ele também não consegue trabalho, porque não fala muito bem o português".
O marido de Asmaa, Mazen Kjok, de 32 anos, lembra com tristeza da vida deixada para traz. "Gosto do Brasil. Fomos recebidos muito bem. Mas a vida é difícil. Não consigo trabalhar e o custo de vida é muito alto. Lá tínhamos casa, carro, trabalho e família. Apesar de tudo, lá sempre será a nossa casa. É triste não poder voltar", lamenta.
Por outro lado, Kjok comemora o fato de hoje poder continuar ao lado da esposa e de seus três filhos - Fahed, de 9 anos, Maria, 7, e Hanzeh , 6. "Tem muita gente morrendo. É muito difícil conseguir sair da Síria. O caso do menino que morreu na praia enquanto a família tentava fugir foi muito triste. Por isso é bom estar no Brasil, mas eu me lembro sempre de quem ainda está lá".