Organizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), a campanha ‘Julho Verde’ busca conscientizar as pessoas sobre a necessidade do diagnóstico precoce do câncer de cabeça e pescoço. Durante o mês, diversas iniciativas são criadas para divulgar os sintomas que muitas vezes são negligenciados.


De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são registrados 43 mil novos casos a cada ano no país, sendo o segundo câncer mais frequente entre os homens e o quinto mais comum entre as mulheres.


Os fatores de risco da doença estão ligados a hábitos diários, principalmente ao fumo e consumo de bebida alcoólica, como alerta o Dr. Rafael Zapata, oncologista clínico do Centro Oncológico de Mogi das Cruzes. Dados da Vitigel 2021 mostram que o percentual de fumantes com 18 anos ou mais, no Brasil, é de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres.


Nesta entrevista, o oncologista explica mais sobre o câncer, diagnóstico e tratamentos.


O termo “cabeça e pescoço” generaliza as regiões acometidas pela doença. Ela atinge especificamente quais partes do corpo?


Quando a gente fala de tumor de cabeça e pescoço os principais são tumor de cavidade oral, de orofaringe, de hipofaringe, de laringe e de nasofaringe, mas existem outros, como lábios, seios da face e o de parótida.


Quais são os principais sintomas da doença?


É muito comum, nos pacientes, o tumor crescer em alguma região da cabeça e pescoço e ter metástases para linfonodos, ou seja, alguns nódulos no pescoço. Então, muitas vezes, a pessoa apresenta alguns nódulos, alguns caroços, ínguas (dependendo do termo que for falado), que vão crescendo e não melhoram ao longo do tempo, das semanas, dos meses.


Muitas vezes é uma lesão na boca que não cicatriza, que só piora e sangra. Dependendo, se o tumor estiver na laringe, perto das cordas vocais, às vezes tem rouquidão inexplicável.


Quando o tumor cresce muito, dependendo da área que está, se está obstruindo a passagem do ar, da via aérea, pode dar falta de ar e é muito comum o paciente perder o apetite, emagrecer e ter dificuldade para comer.


A partir da identificação de alguns sintomas, a pessoa deve consultar qual profissional da saúde?


O paciente pode procurar principalmente dois profissionais, um oncologista e o cirurgião de cabeça e pescoço, porque um vai complementar o outro.


O cirurgião de cabeça e pescoço muitas vezes já faz a biopsia, chega no diagnóstico, avalia se vai ou não fazer a cirurgia, e um oncologista acompanha em conjunto, ajuda na definição de quais exames serão necessários fazer e, em boa parte dos casos, não há indicação de cirurgia e é feita a quimioterapia junto a radioterapia.


Esse acompanhamento paralelo é muito importante porque, quando por ventura não vai ser operado logo no início do diagnóstico, muitas vezes o paciente é operado depois, por isso é preciso ter acompanhamento com o cirurgião de cabeça e pescoço. Independente se for fazer a quimioterapia ou não, é importante ter o acompanhamento com o oncologista, porque ele vai ver se em algum momento vai precisar de quimioterapia ou de algum tratamento complementar.


O tratamento traz sequelas?


Como todo tratamento oncológico, pode causar efeitos colaterais. Isso pode acontecer, mas o mais importante é a gente tratar do câncer que tem potencialidade de gravidade, inclusive, o câncer tem risco de vida. A ideia do tratamento é tentar controlar ou, em boa parte dos casos, fazer sumir o câncer.


Os efeitos podem acontecer. Se o tratamento for cirúrgico, muitas vezes tem aquela alteração estética, dificuldades de fala (se tiver que operar algum músculo) ou de deglutição.


Em relação à quimio e radioterapia, é comum ficar com a boca seca. Durante o tratamento pode ter alteração do paladar, perda de peso, mas ambos tendem a melhorar depois que acaba o tratamento. Não é uma regra, mas tendem a melhorar.


Outros efeitos colaterais dependem muito de cada organismo, se o tumor será ou não resistente ao tratamento e como vai se comportar ao longo do tempo. Por isso que é importante beber bastante água, porque diminui a chance de ter alteração no rim, por exemplo.


Também é comum ter mucosite, que é a inflamação da mucosa, da boca. Dá afita, algumas ‘feridinhas’, mas tendem a melhorar depois.


Como funciona a campanha 'Julho Verde'?


A ideia de prevenção de câncer de cabeça e pescoço é porque é realmente um câncer que as chances de prevenção são altas. Existem três fatores de risco principais, dois disparados: tabagismo e a bebida. Se as pessoas não fumassem, bebessem menos, a população teria menos câncer de cabeça e pescoço. A terceira forma é o HPV, sexualmente transmissível.


São três formas preventivas, então a gente pode mudar o desfecho dos diagnósticos, diminuindo no Brasil, de forma geral, porque é um câncer que o tratamento não é fácil e que pode ser resistente. A principal questão é a prevenção.


Ainda há muito trabalho a ser feito para conscientizar a população?


Com certeza muito trabalho a ser feito. Primeiro que o câncer de cabeça e pescoço é muito comum na população, mas pouco conhecido, e não tem muita campanha a respeito de prevenção ou informações de tratamento.


Ainda não é um mês conhecido, como o Outubro Rosa, Novembro Azul e o Dezembro Laranja, mas a ideia é ficar cada vez mais conhecido para as pessoas ficarem cientes que realmente é um câncer que existe prevenção, tanto ao parar de fumar, parar de beber e de se preservar sexualmente. Existe a vacina contra o HPV, que pode diminuir a incidência da doença.


*texto supervisionado pelo editor.