No primeiro mês do ano é celebrado o “Janeiro Roxo”, cujo foco é a conscientização, combate e prevenção da hanseníase. Segundo o Ministério da Saúde, essa é uma das patologias mais antigas conhecidas pela humanidade, com registros que datam de 4 mil anos atrás, na região da África e da Ásia. Entretanto, através dos séculos, ela acabou sendo confundida com outras doenças dermatológicas, e recebeu a denominação generalizante de “lepra”. O Brasil é o 2° país no mundo que mais apresenta novos casos anuais de hanseníase e, em 1995, por determinação da Lei nº 9.010, o termo “lepra” e seus derivados foram abolidos dos documentos oficiais.

O professor de dermatologia e coordenador de cirurgia dermatológica da residência médica da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Dr. André Cesar Pessanha, explica que essa é uma doença causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, que se propaga através de gotículas pelo ar que acabam por ser inspiradas. Mas ressalta que “é necessária a convivência por um certo tempo com o seu portador” para que a contaminação se concretize.

Com isso, o médico complementa que as transmissões tendem a ocorrer no inverno, quando as pessoas, em decorrência do frio, costumam se aglomerar em ambientes fechados.

Inicialmente, a doença se manifesta por meio da perda da sensibilidade tátil, mas o diagnóstico exato só pode ser expedido através de exames específicos. “O diagnóstico definitivo se dá pela biópsia de pele, em que é possível realizar uma coloração especial para visualizar os bacilos (bactérias com forma de bastão), além da própria baciloscopia da lesão e lóbulos das orelhas, que através de uma coleta superficial da secreção local também se pode aplicar técnicas laboratoriais”, explicou Dr. Pessanha.

O médico ainda salienta que, por se tratar de uma doença crônica, ela acaba por tomar meses de combate. “O tratamento é feito por vários meses com a combinação de três antibióticos, além do acompanhamento mensal por um médico especializado, em que a utilização de um antibiótico, a rifampicina, é supervisionada. Existe uma meta de meses a tomar esses remédios de acordo com o Ministério da Saúde, a depender da gravidade de cada caso”, destacou.

Os principais sintomas são manchas brancas, castanhas ou avermelhadas pelo corpo. Em casos avançados, o especialista alerta que podem ocorrer "deformidades, principalmente de mãos e pés, e perda dos dedos, podendo levar à morte por infecção generalizada”.

Dr. Pessanha também destaca que, segundo o DATASUS, os casos de hanseníase em Mogi das Cruzes são flutuantes. “Parece ter havido um pico de 47 casos em 2018; 17 casos em 2019; dois em 2020 e 10 em 2021. Lembrando que essa notificação é feita em postos de saúde mais especializados na moléstia. Em Mogi das Cruzes, este programa de atendimento é na UAPS-1”, pontuou.

Principais vítimas


O médico analisa que, apesar de atender casos esporádicos no Ambulatório de Dermatologia Geral, as infecções ocorrem com maior frequência entre a população de baixo poder aquisitivo. “Infelizmente, a hanseníase é mais comum em populações muito carentes, que vivem em ambientes pequenos e com grande concentração de pessoas. Muitas vezes falta informação para se fazer o diagnóstico que acaba sendo tardio. Nesses momentos, também faltam informações que precisam chegar a essas populações”, ressaltou.

Uma das alternativas apontadas pelo especialista, é articular campanhas nos postos de saúde, algumas das quais já acontecem, promovendo mutirões em locais de extrema pobreza, com o objetivo de conscientizar a camada menos abastada da população, promovendo também diagnósticos prévios.