Enquanto compartilhava no café da manhã com meu neto, notei que ele só usava a mão direita, tanto para beber como para comer, porque a esquerda estava ocupada com o celular. Referi  o fato e ele desconcertado não soube explicar, pois o aparelho não estava sendo usado. O neologismo nomofobia  vem do inglês "no móbile phone phobia", ou seja, o medo ou a ansiedade  de ficar sem o celular. O celular, além de nos conectar com o mundo, nos dá uma segurança confortável se estiver até à distância do alcance das nossas mãos. Com o tempo ele se torna, para muitos, uma muleta emocional que uma vez esquecido ou perdido traz ansiedade, às vezes, seguida de angústia. 

A mente insegura atrasa compromissos, diminui a produtividade e perde o foco da atenção. Esses sintomas presentes podem levantar o diagnóstico de um indivíduo nomofóbico. Segundo o estudo anual Google Consumer Barometer, o percentual de brasileiros que usam smartphones chegou a 14% em 1962, 62% em 2016 e, atualmente, 92%. No painel da vida, onde se lê que o bônus traz o ônus, acendeu-se a luz vermelha de alerta do desenvolvimento de um transtorno mental que ativa o Sistema de Recompensa Cerebral (SRC), proporcionando prazer e satisfação que leva ao uso excessivo do celular, causando interferência na socialização, no foco e na memória, um caminho aberto para o vício  que escraviza. 

A psicóloga Dora Gomes, do Hospital das Clínicas, relata: "A pessoa está em um lugar, mas ao mesmo tempo não está. Ela fica o tempo inteiro checando tudo e não consegue se concentrar no que está fazendo". Não é normal: deixar de perceber e de ouvir a pessoa que está ao seu lado, deixar de sair, de comer, de viver quando conectado. Aí é transtorno. Num jantar com amigos, em compromissos sociais, num momento litúrgico no templo, desligar o celular é um ato educado de amor e respeito. Nietzsche disse: "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia" O equilíbrio mental do nosso ser social se faz em online, em off-line e num link diário com Deus.  

Mauro Jordão é médico.