O dia do ser humano começa com o alarme despertando, no telefone celular, e considerando o utilizar da famosa “função soneca”, lá se vai o primeiro duplo contato com menos de 5 minutos do abrir os olhos.
A partir daí tem início a avalanche de manuseios. Ele sai da cama andando com o aparelho nas mãos, por vezes mexendo nele, em outras, não. O banheiro ganha um novo companheiro: saem de campo as revistas e gibis, entra o onipresente amigo digital.
Café da manhã em família já era. Duas, três, quatro, pessoas sentadas ao redor de uma mesa, mas efetivamente distantes em conteúdos dispersos pelo ambiente virtual. Quiçá um rápido olá no grupo de WhatsApp da família, o atual principal meio de comunicação.
Pega o seu carro para alguns compromissos profissionais, e imediatamente conecta o smartphone no visionário sistema bluetooth do veículo, garantindo assim alta conectividade ao longo da direção. Os antes apreciados pássaros, cachorros e nuvens, abrem espaço para podcasts, vídeos e redes sociais. Válida a citação que, quando o sistema bluetooth não existe, ou é ignorado, vai na mão mesmo, e dane-se a focada atenção que a direção mereceria e que não é atingida.
Nas múltiplas reuniões presenciais ao longo do dia, celular e smartwatch apitam sem parar, e o ser humano tem a cara de pau de dizer que pode continuar falando com ele, pois está prestando a atenção em tudo. Possivelmente ele está no seleto grupo, do qual não faço parte, dos 2% de pessoas que conseguem estar atentas a mais de uma coisa ao mesmo tempo.
Falando nisso, à noite, o ser humano se dá conta de que usou o aparelho telefônico por quase 8 horas, e que tocou na tela do mesmo mais de cento e cinquenta vezes. Considerando que ele precisa de pelo menos dez minutos, em média, para recuperar a atenção plena após cada toque, pode-se dizer que ele passou o dia praticamente desatento, na lua.
Atente-se a esse recado valioso, sem julgar o ser humano. Eu não julgo, afinal de contas, o ser humano sou eu, o ser humano é você.
Arthur Del Guércio Neto é tabelião em Itaquaquecetuba.