Vivemos tempos difíceis. E como é bom poder dormir sabendo que nossa Fernanda conquistou o Globo de Ouro. Ela lavou a alma daqueles que continuam acreditando na possibilidade de uma utopia, em podermos construir e usufruir uma sociedade mais humana, diversa, civilizada e igualitária.
Inicio meu artigo falando de algo que nos emociona e nos enche de orgulho, para depois tentar cutucar as consciências sobre situações que precisamos enfrentar. Assunto recorrente na mídia de uma forma geral, bem como nos meus artigos, estou falando da crise climática.
Fomos, e ainda somos, muito irresponsáveis em nossa relação com o nosso planeta. A Terra, nossa casa e sustentadora de nossas vidas, tem sido vítima implacavelmente da ganância desenfreada de um modelo de acumulação de riqueza que, em última, mas não apenas em última instância, ameaça a nossa existência.
Dentro desse conceito de “tempos difíceis”, não podemos deixar de fora o fato de termos que conviver, lado a lado, com pessoas que acreditam no terraplanismo e que são fervorosos negadores da ciência. Pasmem, e isso em pleno século XXI.
A cada dia somos alertados por informações vindas dos meios científicos, e elas não vêm via whatsapp, mostrando que algo de muito importante e significativo tem que ser feito para interromper o processo intenso de degradação do nosso planeta mãe. Diferente daquilo que defendem os negacionistas, o aquecimento global não é uma invenção globalista fomentada pela esquerda mundial. Aquecimento global é um fenômeno que compreende efeitos da natureza e efeitos da ação do homem. E esses efeitos da ação do homem estão se tornando cada vez mais intenso, o que coloca em risco, não mais apenas as futuras gerações. As gerações existentes já sentem claramente esses efeitos. Ou seja, não é mais algo para um futuro distante.
Uma análise de dados de 123 países do Hemisfério Norte divulgada recentemente, aponta que 44 ganharam sete dias ou mais de inverso acima de 0°C entre 2014 e 2023. Claro para os cientistas está, que essas variações, somadas a tantas outras que estão sendo analisadas, prenunciam um futuro muito preocupante. Como já afirmei em outro artigo, diversas cidades litorâneas em diferentes países, correm o risco de perderem partes de seus territórios nos próximos anos, em virtude do aumento das águas dos oceanos. Em algumas cidades, isso já começa ocorrer.
As cidades que abrigam mais da metade da população mundial geram cerca de 70% das emissões globais de gases do efeito estufa, segundo uma estimativa de 2022 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
A boa notícia é que um grupo amplo de especialistas afirma que as áreas urbanas podem liderar o caminho para a redução das emissões, o que provocaria um efeito multiplicador que contaminaria positivamente o conjunto do planeta.
Precisamos muito acreditar nisso.
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor