Com o fim do primeiro turno e da apuração da eleição municipal, verificamos que a mesma terminou com o maior número de prefeitos e vereadores eleitos oriundos de forças de segurança.
No total, 856 agentes foram eleitos para os cargos em disputa. Foram 759 vereadores, 52 prefeitos e 45 vice-prefeitos. Este foi o maior número desde o início da série histórica, em 2012.
Os dados constam em pesquisa do instituto Sou da Paz. De acordo com o relatório final, foram quase 7 mil candidatos oriundos das forças de segurança que usaram termos como "sargento", "capitão" e "delegado" junto a seus nomes nas urnas.
É obvio que todo e qualquer cidadão que cumpra as exigências da justiça eleitoral pode se candidatar, esse é um direito do cidadão. Mas desde que seja nessa condição, como cidadão.
Uma reflexão importante que deve ser feita pela sociedade. A política brasileira vem descendo ladeira abaixo já faz muito tempo. Alguém aqui, de imediato e sem pesquisar, sabe quem é Francisco Everardo Oliveira Silva? Pois bem, esse senhor teve, na eleição de 2010, um total de 1.348.295 (6,35%) votos tornando-se o Deputado Federal mais votado do país naquele ano.
Esse senhor é o Tiririca, o candidato palhaço que foi eleito pelo partido do Valdemar da Costa Neto, na época PR e hoje PL, que canalizou votos de protesto e votos de eleitores que são atraídos pela fama dos candidatos.
Tem algum problema um palhaço ser candidato? A princípio não, desde que ele faça isso como cidadão. O mesmo vale para os militares ou demais agentes das forças de segurança.
O caso dos candidatos de patentes é muito mais grave do que o caso Tiririca, que tinha como slogan de campanha “vote no Tiririca, pior do que tá não fica”. Até nisso existiu uma mentira. Piorou sim, e muito.
Parte do eleitorado, principalmente os mais desinformados, associam essas candidaturas a uma pretensa solução para a questão da segurança, uma das maiores preocupações da população brasileira.
E não é. A grande maioria desses candidatos abordam o tema pela via da repressão ostensiva, sem contribuir em nada para a construção de uma política pública de segurança consistente e eficaz. Uma política baseada na prevenção.
Na área de segurança pública, os problemas são muitos. A começar pelo fato de sermos um país no qual a sua polícia militar se estrutura no âmbito das unidades federativas, não compondo um só corpo como é a experiência em vários outros países.
Via de regra, nos estados brasileiros as polícias militares (que são ostensivas e repressivas) recebem mais atenção e investimento do que as polícias civis, que são polícias investigativas e de prevenção.
Ou seja, a militarização da política não é de interesse da sociedade.
Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor