Dificilmente a embalagem tem a forma do conteúdo; no entanto, há certos conteúdos dentro de nós que não deveriam tomar forma, assustariam ou escandalizariam a muitos. Se o conteúdo dos políticos fosse tão bom quanto à qualidade e à quantidade das virtudes, das boas intenções, anunciadas na embalagem da propaganda de cada um deles eu votaria em todos. Nunca a classe política de nosso país esteve tão desprestigiada como nos tempos atuais. 

Vemos uma galeria de fotos dos candidatos na TV, sem nenhuma expressão verbal, amordaçados pela tirania do tempo. Outros mais privilegiados, apesar do tempo exíguo, conseguem espaço para criticar o adversário ou para se promover com mil promessas que não serão cumpridas. Será que cada eleitor tem estampada em sua camiseta partidária: "Me engana que eu gosto?" Tanto no comércio como na indústria se exige de quem almeja um emprego um currículo de formação profissional ou experiência suficiente para ser admitido; no entanto, para governar ou legislar na esfera federal, estadual ou municipal basta o candidato ter alguma duvidosa popularidade que sirva como potencial de voto para ser aceito pelo diretório. 

O Tribunal Superior Eleitoral deveria promulgar leis restritivas, além das que existem em relação aos crimes eleitorais, para aqueles que desejam, sem possuir o devido preparo, candidatar-se a cargos políticos. Resultado dessas escolhas mal conduzidas se vê no Congresso, onde essas nulidades espertas se locupletam, com apadrinhamentos e favorecimentos vergonhosos, no interesse do nepotismo e do enriquecimento ilícito. 

O senador Jefferson Peres, um pouco antes da sua morte, em 23-05-2008, fez esse pronunciamento chocante perante o Senado: "Este Congresso que está aqui é o pior de que participei. A maioria é medíocre e de baixa moral. Depois de 2010, não quero mais. Podem eleger Fernandinho Beira Mar para presidente, mas não com o meu voto". Com ele foi enterrada boa parte do que ainda restava da dignidade da classe política deste país.

Mauro Jordão é médico.