Num trecho da letra da canção "Se Todos Fossem Iguais A Você", de Tom Jobim, diz assim: Se todos fossem/ Iguais a você,/ Que maravilha viver/ Uma canção pelo ar/ Uma mulher a cantar,/ Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir/ A beleza de amar/ Como o sol, como a flor, como a luz/ Amar sem mentir, nem sofrer./ Existiria a verdade/ Verdade que ninguém vê/ Se todos fossem no mundo iguais a você". 

Três virtudes iniciadas pela vogal "a" são necessárias para manter o equilíbrio do ser humano: alegria, amor e amizade. Alegria se compara com a Primavera, amor adolescente, tudo são flores, paixão sem medida, ciúme exuberante, a vida é o momento de agora. Fogo de palha que ao menor atrito se desfaz ao não se amar mais. Amor atrelado ao Verão aquece a alegria e produz o amor amadurecido que escolhe, elege, separa e valoriza. É o amor que faz a sua "florzinha" ser a mais bela e a mais importante, entre tantas outras do jardim. 

O amor adolescente é divergente; o amor adulto vai se tornando, para ambos, convergente no propósito de fazer feliz o ser amado. A ausência produz falta, entristece e empobrece. Ama-se muito, briga-se muito, sofre-se muito; porém, busca-se a reconciliação, e vence o amor. No meio desta batalha de sonhos e desejos esse amor aquecido em seus sentimentos caminha até alcançar a fase do amor outonal. Esta estufa de carinho e dedicação produz o Outono da vida, acrescentado, naturalmente, dos frutos doces da amizade. Nesse lar feliz onde se goza alegria, amor e amizade podem-se criar filhos de bom caráter que amam e são amados pelos pais. 

Um dia as quatro estações se encontrarão; a primavera disse: Eu sou alegria; o verão anunciou: Eu sou o amor; o outono afirmou: Eu sou a amizade. Cheios de soberba, perguntaram, com desprezo, ao inverno: E você quem é? Ele respondeu: Eu sou a sabedoria. A alegria me faz sorrir, o amor me dá vida e a amizade me afasta da solidão. "Levanta-te, querida e formosa minha, e vem, chegou o tempo de cantar e amar" (Cantares).

Mauro Jordão é médico.