“PM fardado é flagrado agredindo mulher com tapa no rosto em SP”. É o título de uma matéria exibida no UOL, acompanhada de vídeo que registrou a agressão. Ainda de acordo com a matéria, “Vídeo mostra PM falando "abaixa a mão" para a vítima, que questiona o porquê, antes de levar um tapa no rosto. É possível ouvir o impacto da mão do homem atingindo o rosto da mulher”. Esse fato ocorreu na noite do dia 6, sexta-feira, na estação do metrô Luz.

No dia primeiro do corrente mês, policiais militares da Rocam agrediram, com cassetete e taser (lanterna choque), um jovem negro desarmado em Piracicaba (SP). O jovem se abrigou em casa e, os policiais, sem mandato invadiram a residência para continuar agredindo o jovem. O pai do jovem, um senhor cadeirante tentou proteger o filho e também foi agredido.

Em 30 de maio de 2023, uma idosa de 70 anos foi agredida com um soco desferido por um policial militar, no interior de São Paulo. O policial agredia um dos filhos da idosa que estava algemado e ela foi intervir em defesa do filho quando foi derrubada pelo soco do PM. Por incrível que pareça, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a idosa e seus filhos estavam sendo investigados por agressão e desacato.

Esses são apenas três dos inúmeros casos de abordagem violenta feitas por Policiais Militares de São Paulo. Mas essas situações não ocorrem só em São Paulo e não envolvem somente as PMs. 

No dia 25 de maio de 2022, um homem morreu em uma “câmara de gás” improvisada numa viatura da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe. Genivaldo de Jesus Santos, a vítima, tinha um transtorno mental. Foi abordado pelos policiais, revistado e ficou alterado. Foi jogado no chão, algemado e colocado no porta-malas da viatura toda fechada. Os agentes jogaram gás de pimenta dentro dela, o que provocou a morte do homem.

É impossível não relacionar esse comportamento brutal de agentes de segurança com a institucionalização do discurso de ódio que perdurou por quatro anos em nosso país. Esse discurso institucional autorizou e incentivou tal prática. 

Não é coincidência o fato do relatório divulgado pela organização não governamental Human Rights Watch apontar que a violência policial cresceu de forma mais intensa no Brasil a partir de 2018. Só em 2022, 6,4 mil pessoas foram mortas por policiais.

A farta exibição de vídeos nas redes sociais registrando cenas de ilegalidade e truculência nas abordagens policiais, mostra que esses agentes “públicos”, que deveriam trabalhar garantindo a segurança dos cidadãos, não exibem a menor preocupação com a publicidade dessas práticas ilegais e intoleráveis. Eles contam com a cumplicidade silenciosa de seus superiores.

Precisamos reverter esse quadro. Qualquer um de nós podemos ser vítimas dessa truculência.

 

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.