No dicionário, a palavra “comunismo” aparece como um substantivo masculino que significa “uma organização socioeconômica baseada na propriedade coletiva dos meios de produção”. Pois bem. Estamos falando de uma sociedade onde não existe propriedade privada e, portanto, tudo é coletivo. 

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Já existiu sociedade assim? Já. Só que isso foi nos primórdios da humanidade. No chamado “Modo de Produção Primitivo”, quando não existia a figura do “Estado”. O “Estado” é uma instituição essencialmente reguladora de conflitos. Quando não existia a figura da propriedade privada não existia conflitos, portanto, o “Estado” não era instituição necessária.

Tem um filme chamado “Os Deuses devem estar loucos” que é fantasticamente pedagógico para mostrar como isso funciona. Um piloto americano sobrevoando o deserto de Kalahari, localizado na África Austral, joga uma garrafa de Coca Cola pela janela do avião. A garrafa cai numa aldeia de uma comunidade primitiva. Comunidade essa que se alimentava de raízes e sementes que eram trituradas com o uso de pedras como ferramentas. Um dos nativos descobre que a garrafa de coca cola era um bom instrumento para triturar raízes e sementes. E, diferente das pedras que existiam em abundância, a garrafa era única e se torna objeto de disputa, estabelecendo o conflito num lugar que só existia harmonia.

Toda essa introdução é para colocar em questão uma narrativa infundada e tosca. Tem um monte de gente que fala sobre o comunismo sem ter a mais pálida ideia do que ele seja. A China não é comunista. Ela só é designada assim por que o partido que está no poder é o Partido Comunista. Na China tem “Estado” e ele é forte. A China é hoje um país socialista que pratica uma economia de mercado, essência do capitalismo.

Venezuela e Cuba também não são países comunistas. Do ponto de vista teórico o comunismo seria uma fase posterior ao socialismo. Portanto, o comunismo não vigora em nenhuma parte do mundo, a não ser no pensamento de pessoas que não tiveram boas aulas de história. 

A China tem aplicado bem as teses liberais. Ela caminha rápido para desbancar os EUA da condição de principal economia do mundo. A China não é esse monstro que pintam. Dizem que ela está comprando o Brasil. Essa é uma tolice que só convence os desinformados. No agronegócio brasileiro, por exemplo, entre as seis maiores empresas cinco são americanas e uma é holandesa. A China hoje investe no mercado financeiro, no setor produtivo e de serviços, do mesmo jeito que os EUA e as potencias europeias fazem desde pelo menos do início do século passado.

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor