Uma pesquisa desenvolvida pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em 2019 nos 63 municípios das regiões de Barretos, Batatais, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São Joaquim da Barra, buscou estabelecer relação da alta incidência de câncer nesses municípios, com agrotóxicos aplicados nas plantações de cana-de-açúcar. Ao analisarem as aplicações de pesticidas, foram identificadas sete substâncias potencialmente cancerígenas em 12 produtos pulverizados nos canaviais.

Em grande parte dos casos, o câncer só aparece depois de anos de exposição aos venenos, o que dificulta estabelecer uma correlação direta da aplicação com a intoxicação. Mas a pesquisa mostrou que esse é um fator de risco, pois a incidência de câncer nessas regiões está acima da média registrada no país e vem crescendo ao longo dos anos. Considerando o período entre 2010 e 2019, os casos de câncer cresceram 63% entre os homens e 28% entre as mulheres. Em 2019, enquanto a média de mortes por câncer no país registrou 120 homens a cada 100 mil habitantes, esse número sobe para 214 nos municípios analisados.

A Basf é a responsável pela fabricação do agrotóxico associado ao desenvolvimento de câncer. Com o nome técnico de epoxiconazol, essa substância é proibida na União Europeia devido a evidências de que pode provocar câncer no fígado, problemas para o sistema reprodutivo e no desenvolvimento do feto.

A indústria do pesticida e do veneno, que tem enfrentado resistência ao uso de seus produtos na Europa e nos Estados Unidos, vê no Brasil uma oportunidade para desovar seus estoques. Nos três primeiros anos de governo Bolsonaro, o Brasil registrou 1.529 pesticidas. Na sua grande maioria são produtos que foram banidos em diversos países.

Enquanto isso, além de testemunharmos o aumento do número de mortos como consequência do uso indiscriminado desses produtos químicos, testemunhamos também o aumento dos gastos público por conta do tratamento das enfermidades. Estamos em guerra contra nós mesmos.

Afonso Pola é sociólogo e professor.