O Brasil é e sempre será o país do futuro. Neste ano de 2022 celebramos os 200 anos da independência do nosso país sem um projeto de nação, e um fim a atingir. Deitado eternamente em berço esplêndido, o sonho de grandeza desvaneceu, não se transformou em política de Estado a ser implementada, mesmo sem haver mudança de governo, afirma o historiador, José Murilo de Carvalho. Dele temos nesse artigo muitas citações importantes que esclarecem o desenvolvimento político e econômico desses 200 anos da separação de Portugal.
O conservadorismo brasileiro é mais cultural, moral e de família, gênero e religião do que político, o que as urnas poderão nos mostrar. O campo político é da elite econômica financeira. O Brasil é um "país sem revolução", os manifestos históricos apenas foram de ajuste entre as elites: a Proclamação das Republica, para permitir a entrada dos cafeicultores na política; a Revolução de 1930, para quebrar o monopólio das oligarquias rurais; o golpe de 1964, para conter o trabalhismo criado por Getúlio Vargas. Trecho da entrevista com o historiador: "O Leopardo", único livro escrito por Giuseppe Tomasi de Lampedusa, trás esta frase 'é preciso mudar para que nada mude'. Basta um exemplo: milhões de pobres votam.
No entanto, os eleitos por eles, boa parte dos congressistas, no máximo dedicam-se a práticas clientelistas e populistas, sem promover reformas estruturais em favor da redução da desigualdade. Não representam os interesses de milhões de eleitores que neles votaram. A representação, vale dizer, a democracia, não funciona. A insensibilidade à desigualdade é a marca das nossas elites. Veja-se o exemplo do Judiciário que abriga os marajás da República. Em meio à dura crise causada pela covid, vemos o STF reivindicar aumento salarial de 18% para toda a magistratura. Os juízes do STF que ganham R$39,2 mil, fora os penduricalhos, passariam a ganhar R$46 mil. Isto num país onde o salário mínimo é de R$1.212. Indecência que retrata a cara de nossa elite".
Mauro Jordão é médico.