Novecentos e dezessete dias - escrito desta forma, para que todos possam sentir o peso deste tempo. Foram aproximadamente 917 dias entre o início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e a marca de ausência de óbitos pela doença por um período maior que uma semana.
A longa noite da doença que surgiu como uma incógnita na virada do ano de 2019 para 2020, ano que já não gozava de grandes simpatias pelas pessoas, baixou uma noite escura e densa de medo, preconceito e, infelizmente, desinformação daqueles que deveriam atuar como o farol de toda a população. Charlatanismo, curandeirismo, teorias da conspiração, juntamente com a falta de ar, tomaram conta dos nossos medos.
No Brasil, foram mais de 687 mil mortos. Num mundo amplo e diverso, populosa e culturalmente, coube ao nosso país ter a triste marca de ser um dos campeões de perdas. Pais, mães, tios e tias, avós, amigos, amantes, ídolos e anônimos - todos sofreram.
Mas esta noite não foi apenas de trevas: médicos, enfermeiros, cientistas, assistentes sociais, profissionais dos mais diversos ramos e trajetórias lutaram para manter esta sociedade complexa e interdependente funcionando. Estes homens e mulheres foram tochas que iluminaram nosso caminho e, mesmo esquecidos hoje em seus salários e gratificações, merecem nosso respeito eterno.
O sol nasceu de maneira matemática e científica, com a vacina e com os cuidados. Do pesadelo real de tantas mortes e sequelas, cabe a todos nós tirarmos lições sobre nossas responsabilidades e as responsabilidades daqueles que nos governam diante de momentos de terror e dúvida. Que os nossos líderes, presentes e futuros, ressaltem o valor da Saúde Pública, da Assistência Social, da economia e do fomento à educação que liberta.
Ao olhar os livros de história, a Peste Negra que varreu um terço da Europa no século XIV trouxe um novo olhar para a humanidade, resultando na Renascença e o fim do feudalismo. Que o mundo, ainda ocupado em querelas e um pensamento mofado, permita-se receber o sol de um novo dia a partir dos impactos da Covid-19.