O desenho de uma criança de uma casa, por mais simples que seja, junto com seus pais, animais de estimação e brinquedos, mostra o ponto indivisível de seu mundo. É o ponto de partida para todo o resto de sua vida. Infelizmente, no Brasil, muitas crianças ainda se encontram sem parte desta âncora ao mundo real, nascedouro de esperança. 

Levantamentos da Fundação João Pinheiro, vinculada ao governo de Minas Gerais, estimam que mais de 6 milhões de pessoas no Brasil não possuem um teto para morar. Além disso, 25 milhões de moradias estão em situação irregular. Na prática, mais de um em cada dez brasileiros hoje não conta com o sonho, ou a chance, de ter um teto sobre sua cabeça devidamente registrado. 

O Dia da Habitação, celebrado neste domingo, chama a atenção para um problema que evoluiu exponencialmente, à medida que o crescimento urbano e o desenvolvimento econômico, tocados ao improviso e sob gerenciamento político, transformaram a paisagem geográfica e social do Brasil. Movimentos migratórios regionais, políticas sociais e raciais falhas, a doutrina do desenvolvimento a todo o custo nos deixaram para o começo do século XXI um legado de miséria, poluição e cobranças em um mundo cujo clima muda cada vez mais rapidamente. 

O Alto Tietê vive no fio da navalha entre o desenvolvimento econômico como prioridade para atender a uma população cada vez mais crescente e necessitada de um sustento, e a necessidade da preservação dos recursos hídricos e ambientais e as áreas de cultivo do "cinturão verde", necessárias à alimentação de dezenas de milhões de pessoas. Encontrar o equilíbrio entre estas forças demanda mais do que discursos e investimentos em marketing: pede que a questão habitacional seja abraçada de forma urgente e superando questões partidárias.

"Áreas livres", "ocupações", "invasões de terra" são termos distintos que abordam um mesmo ponto de origem: a esperança que foi abandonada e, pela sobrevivência, tornou-se em ação. Tratar o déficit habitacional não pode ser um caso de polícia, mas uma defesa da esperança do primeiro capítulo de milhares de histórias na nossa região.