Ivan Lins e Batacotô, na década de 1990, imortalizaram dois versos em "Confins", tema de abertura de uma famosa novela: "Nada cai do céu, nem cairá / tudo que é meu eu fui buscar".

As palavras "Crise Hídrica" não são estranhas aos moradores do Alto Tietê, ou do Estado de São Paulo: há mais de uma década, em intervalos regulares, os reservatórios que abastecem cidades da Região Metropolitana de São Paulo e do interior obrigam o racionamento, as altas tarifas, as pias com louças e máquinas de lavar paradas, todos à espera da bênção da água que caia sobre as represas.

A queda de 5% dos reservatórios do Sistema Produtor do Alto Tietê (SPAT), registrada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e apurada pelo Grupo MogiNews/DAT nesta semana, não traz surpresas à primeira vista, em virtude do período de estiagem no inverno. Mas o mundo não é o mesmo de uma década atrás, ou do início dos anos 90.

O mundo sofre, a cada ano, com mais intensidade as mudanças causadas pelo aquecimento global, o desmatamento e o acúmulo de carbono na atmosfera. A falta de proteção aos biomas como a Amazônia e o Pantanal não são fatos contidos em si, e atingem dezenas de milhões de moradores do centro-sul do Brasil.

Há muito tempo companhias como a Sabesp e o Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae) de Mogi das Cruzes buscam implementar medidas que reduzam as perdas na distribuição de água ao público, não pelos lindos olhos castanhos de nossa população, mas pelo lucro financeiro. Combater vazamentos em tubulações, caçar os "tubarões" do desperdício na cidade e no campo são, de fato, medidas dispendiosas - mas mais eficientes que se ater apenas ao discurso do consumo médio da população.

Ivan Lins cantou que a providência divina é uma exceção, e não uma regra - tudo é resultado de causa e consequência em nossas vidas. A chuva teima em não cair não por castigo de Deus, mas pela mão do próprio homem. A solução para a crise hídrica que vivemos hoje também não cairá do céu, mas brotará de nossas cabeças e sairá por nossas mãos.