Problema não resolvido é problema ampliado. A abertura do ano legislativo estará carregada de negatividades. A crise não é só do governo, é também do Parlamento. Crise da democracia!
Na Câmara, o início será inercial: as comissões permanentes têm que ser reconstituídas, com nova composição de membros indicados pelos partidos e eleições de seus presidentes e vices. Os seguidores de Cunha, o presidente sob pedido de afastamento no STF, querem colocar a escolha das direções das comissões reféns do rito definido pelo Supremo para o impeachment. O órgão máximo do Judiciário determinou voto aberto para a comissão especial da questão. Isso pode levar a que apenas em abril a Câmara esteja funcionando em plenitude!
O ainda presidente Eduardo Cunha continuará vulnerável e... manobrando. As iniciativas protelatórias no Conselho de Ética prosseguirão.
Já o Executivo dá o que Nelson Rodrigues chamaria de "arrancos de cachorro atropelado", tentando governar, mais uma vez. Com o velho receituário de reduzir direitos e aumentar impostos. A pauta que chegará ao Legislativo é a do "ajuste": DRU, CPMF, Acordo de Leniência com as grandes empresas, manutenção de vetos presidenciais. Nada de reforma tributária, auditoria da dívida, taxação sobre grandes fortunas.
Os jatos da Lava Jato revelam a podridão do sistema político e o derretimento partidário quase total. O poder dissolvente do dinheiro desmancha reputações. A politicalha da troca de favores e o patrimonialismo, nossas velhas e péssimas tradições, virão à tona com sua carga de degeneração republicana.
No plano da política, as eleições municipais revelarão o tamanho do garrote que a contrarreforma política colocou no PSOL, por exemplo. Mas, por outro lado, sem financiamento empresarial, serão um desafio para os "usufrutuários" de campanhas milionárias, bancadas por grandes grupos econômicos. Quem sabe, desta vez, o tamanho das ideias prevalecerá sobre o tamanho do bolso?
Insatisfação e desencanto são os sentimentos populares mais fortes neste início de 2016. Quem, em função de representação, não perceber isso, não sobreviverá.