Mais do que a indignação e a incredulidade que surgem em um primeiro momento, o sentimento que persiste após ver as cenas lamentáveis registradas anteontem no estádio Nogueirão, em Mogi das Cruzes, é a tristeza. Não apenas pelos atos de selvageria, mas pelo medo causado às pessoas que apenas queriam curtir uma partida de futebol e pela constatação de que em pleno século 21 há quem ainda se comporte dessa maneira.
O jogo pelas oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior era um evento de peso para a cidade. Era uma atração e tanto para os moradores locais que gostam do esporte, independentemente dos clubes para os quais torcem. Era a possibilidade de ver a categoria de base de um dos maiores e mais importantes times do País em campo. Oportunidade para levar os filhos e as esposas, estar com os amigos e passar uma noite agradável e que ficaria gravada na memória.
A confusão teve início dentro do estádio de parte de torcedores revoltosos porque os portões haviam sido fechados e vários integrantes de uma torcida organizada estavam do lado de fora. Ora, o local consegue receber um público menor do que 8 mil pessoas. Se a capacidade estava esgotada, é óbvio que por segurança a entrada deveria ser fechada. Ainda mais numa partida em que não era cobrado ingresso.
O que se viu foi a fúria de marginais que depredaram as dependências do estádio, reinaugurado no ano passado, e partiram covardemente com armas improvisadas para cima de agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) que estavam lá para garantir a preservação do patrimônio. Vários deles foram agredidos, até a entrada da Polícia Militar.
Mas o estrago estava feito. As bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo atingiram a todos, inclusive quem não estava no meio da confusão. Resultado: crianças horrorizadas, pais desesperados, 15 feridos e nenhuma possibilidade de sair daquela batalha campal.
O episódio foi resultado da irresponsabilidade da Federação Paulista de Futebol (FPF) em escolher o Nogueirão para receber jogos do São Paulo, de torcida imensa. O certo seria que a partida ocorresse em um estádio que comportasse um público maior. Embora tenha recebido a torcida do Flamengo nas primeiras fases do torneio, o jogo de anteontem era de um time paulista, é claro que atrairia muito mais gente.
O pior é que ninguém foi preso. Os danos ao patrimônio são visíveis, mas aqueles causados em quem só queria ver o jogo poderão ser irreversíveis, principalmente nas crianças.