Existem várias formas de descrever e, dentre tantas, uma que eu utilizo muito para explicar o dia a dia do advogado é no sentido de que a advocacia é uma profissão destinada a resolver problemas.
Geralmente digo aos colegas de profissão que, ou temos muitos problemas para resolver ou estamos trabalhando pouco. "Problemas", aqui, é utilizado de forma extremamente genérica e pode significar pretensões, disputas, angústias, necessidades, além de tantas outras espécies.
Todas essas questões são carregadas de sentimentos pessoais. E não duvidem, pois todas são realmente carregadas de sentimentos pessoais, até mesmo as disputas empresariais. Mesmo a pessoa jurídica, que não passa de ficção jurídica, obriga o advogado a tratar com sentimentos humanos.
Apenas para exemplificar, imaginem a semana de um advogado, uma semana qualquer, em que ele tenha atendido um pai que disputa a guarda do filho, uma mãe com o filho preso, alguém preterido em concurso público e uma filha que ansiava passar o Natal com a mãe, que deveria gozar de saída temporária. Para algumas pessoas seria carga emocional para uma vida inteira, para um advogado é apenas um dia de trabalho.
Lidamos com situações em que pessoas foram extremamente humilhadas, resumimos suas palavras, fundamentamos com dispositivos legais e buscamos restabelecer o equilíbrio com a aplicação da justiça.
Isso deve ser feito sempre com serenidade. A manutenção da sociedade civilizada exige que mesmo os problemas mais ardentes sejam resolvidos com método, paciência e serenidade. Cabe ao advogado receber a carga do fato ocorrido, aplicar o método e direcionar a questão ao processo civilizado, ou seja, trata-se da responsabilidade pela transformação do sentimento pessoal em pretensão jurídica.
Mesmo com a frequência, o profissional não pode se permitir um processo de desumanização, ele deve manter a sua humanidade e isso depende de cultivar a empatia pelo sofrimento de cada indivíduo que o procura. Mas, sem que isso comprometa sua sanidade.