Dilma Rousseff está coberta de razão quanto à legitimidade de seu mandato. É absolutamente legítimo. A presidente parece ou prefere não entender que o cerne da crise não é legitimidade, mas credibilidade. Ou melhor, a falta dela.
Por obedecer aos ritos da legalidade, também são legítimos os movimentos daqueles que discutem vias constitucionais de impedimento da presidente ou que, diante da possibilidade de que a vitória nas urnas tenha sido fruto de campanha financiada com dinheiro sujo, questionam a validade do resultado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Lula, o maior líder popular da história recente, soube como ninguém acumular créditos. Ao inaugurar o presidencialismo de coalizão sustentado pelo toma-lá-dá-cá de cargos e dinheiro vivo, ele manteve-se popular, mas corroeu sua credibilidade.
Dilma seguiu na mesma trilha no primeiro mandato. Conseguiu não só ficar em pé, mas se reeleger, ainda que à custa de mentiras e, sabe-se lá, recursos de campanha surrupiados da Petrobras e de outras empresas públicas, conforme delações já feitas no curso da operação Lava-Jato.
O Mensalão e a Lava-Jato - operações de indiscutível legitimidade, mas tidas pelo PT como golpistas - criaram imensas dificuldades ao presidencialismo de coalizão. Com verbas minguadas, a fantástica maioria congressual forjada pela garantia de mesada começou a se desintegrar. Primeiro, lentamente, agora, em velocidade estonteante.
Já no início do seu segundo mandato, Dilma teve de lançar mão de seus derradeiros créditos. Viu-se forçada a fazer um ajuste fiscal com o qual não concordava e nomear um ministro da Fazenda que não queria. Traiu, uma a uma, as premissas que a elegeram.
Rejeitada pela maioria esmagadora do País - 71% reprovam o seu governo, segundo o Datafolha -, a presidente não reúne condições de arregimentar tropas para vencer as crises econômica, política e moral.
A legitimidade de Dilma hoje lembra a dos contos de réis ou dos cruzeiros e cruzados velhos e novos. Notas legítimas que perderam o valor de face e tiveram de ser substituídas.