A combinação entre a crise política e a econômica está dificultando a retomada do crescimento. O enredo ruim de 2015 se reflete na rápida deterioração da percepção de empresários, consumidores e investidores com o Brasil. A confiança de vários setores atingiu o nível mais baixo de cada série histórica, e o quadro de pessimismo instaurado no País se agrava porque não há sinais de retomada no curto prazo. O mau humor também enfraqueceu o governo. Há uma grande desaprovação com o rumo adotado pela segunda gestão Dilma Rousseff. Nas últimas pesquisas, a avaliação positiva do governo ficou abaixo de 10% - um índice de popularidade superior apenas ao do ex-presidente José Sarney (1985-1990), quando o cenário econômico era muito mais adverso. O problema atual é que, sem apoio popular e político, o governo tem dificuldade em unir a sua base de apoio para negociar as medidas de ajuste fiscal com o Congresso e precisa, ao mesmo tempo, lidar com os impactos políticos da Operação Lava Jato. A gestão Dilma também enfrenta batalhas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e precisou se defender das pedaladas fiscais praticadas no ano passado no Tribunal de Contas da União (TCU). "A percepção de que essa crise é uma das piores das últimas décadas se dá porque houve uma combinação da piora econômica e política. Elas estão se retroalimentando", afirma o diretor para a América Latina da consultoria Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves. "O momento é de cautela. A visão geral é de que pode piorar antes de melhorar. Não basta só ao governo mostrar boa intenção em corrigir rumo. Ele tem de demonstrar capacidade de implementar as medidas necessárias", diz. A confirmação desse mau momento do País foi chancelada na semana passada, quando a agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) alterou perspectiva da nota brasileira de estável para negativa. Agora, o Brasil ficou mais próximo de perder o grau de investimento.
Ano difícil
Já se esperava um ano bastante difícil tanto na política quanto na economia. Politicamente, o País se dividiu depois da acirrada eleição do ano passado. Na agenda econômica, a nova equipe tem promovido uma série de ajustes para corrigir os desequilíbrios que surgiram nos quatro anos anteriores. A aposta do governo era que, com a execução do ajuste, a confiança iria voltar e, com ela, o crescimento econômico. No entanto, esse plano não se confirmou. "No horizonte atual, as empresas estão muito pessimistas. Isso faz com que elas adiem as decisões de contratação e investimento, o que acaba retroalimentando essa desaceleração", diz Aloisio Campelo, superintende-adjunto para ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). "Essa crise tem sido idiossincrática do Brasil. Nos outros países, a confiança está subindo. Vai demorar muito para o País voltar a ter uma confiança em alta", afirma Campelo.