Em 1º de setembro de 2025, Mogi das Cruzes celebra seu aniversário de 465 anos, trazendo à tona debates importantes sobre o futuro da mobilidade urbana no município. Com uma população estimada em cerca de 500 mil habitantes, Mogi apresenta um cenário de crescimento acelerado e, ao mesmo tempo, desafios estruturais que atrasam a consolidação de sistemas alternativos de transporte, como é o caso da bicicleta. A discussão sobre o sistema cicloviário revela tanto a necessidade de modernização quanto a urgência de uma mudança cultural ampla para que a mobilidade ativa ganhe espaço de fato.

A Política Nacional de Mobilidade Urbana exige que cidades com mais de 20 mil habitantes elaborem e revisem seus planos de mobilidade, considerando todos os modais. Em 2017, Mogi das Cruzes revisou o seu plano, contando com participação popular em audiências públicas e reuniões setoriais, pautada pelo objetivo de melhorar a circulação de pedestres, ciclistas, veículos particulares e transporte coletivo. Como resultado desse planejamento, a cidade passou a contar com 32,38 km de vias cicláveis, distribuídas entre ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas espalhadas por regiões como Jundiapeba, Brás Cubas, Cezar de Souza, Vila Industrial e o centro. Trata-se do maior índice de infraestrutura cicloviária do Alto Tietê.

Apesar do avanço quantitativo, a realidade ainda está longe de ser a ideal. A infraestrutura é, muitas vezes, fragmentada e desconectada, não formando uma malha integrada que permita o deslocamento seguro entre bairros e o centro da cidade. A precariedade na sinalização, manutenção irregular e a falta de integração das rotas com outros modais dificultam a rotina de quem escolhe pedalar. Em 2021, foi registrado um aumento significativo de acidentes envolvendo ciclistas, o que deixou em evidência a necessidade de políticas eficazes e ações educativas contínuas. O cenário de insegurança acaba desestimulando novos usuários, relegando a bicicleta a um papel secundário e subaproveitado.

Além da estrutura física, a ausência de cultura cicloviária nas gestões municipais é evidente. Um exemplo claro dessa negligência é o mais recente projeto viário apresentado em julho de 2025 para a região da Rotatória Kazuo Kimura. Embora muito se fale sobre mobilidade sustentável, as ilustrações e o projeto oficial pouco ou nada detalham sobre ciclovias e ciclofaixas, relegando o tema das bicicletas à mera menção protocolar, sem garantir espaço real para o modal.

Essa invisibilidade institucional é reforçada por comportamentos cotidianos: comerciantes do centro dificilmente disponibilizam vagas para bicicletas, e nos estacionamentos mais próximos à região central não há bicicletários adequados, mesmo sendo um espaço de grande fluxo e congestionamento, que poderia ser aliviado pelo uso da bicicleta. A convivência entre diferentes modais ainda é marcada por disputas, pouca empatia e ausência de campanhas educativas. Carros ocupam ciclovias, ciclistas muitas vezes precisam dividir espaço precário com veículos ou pedestres e, diante da falta de respeito ao seu direito de circular, tampouco se sentem motivados a respeitar integralmente as leis de trânsito.

Criar uma cidade que valoriza a mobilidade ativa passa pela intenção pública manifestada em políticas concretas, mas exige, principalmente, uma mudança cultural. Mogi das Cruzes só avançará de verdade quando posicionar a bicicleta como modal legítimo, digno de investimento, respeito e integração à malha urbana, com campanhas de conscientização permanentes, campanhas educativas de trânsito e ampliação dos bicicletários estratégicos. É primordial que ciclistas sejam respeitados e que também cumpram as leis, formando uma convivência equilibrada e civilizada entre todos os usuários das ruas.

Nos seus 465 anos, Mogi das Cruzes tem diante de si tanto um desafio urgente quanto uma grande oportunidade: transformar a mobilidade urbana e dar à bicicleta o protagonismo que ela merece como alternativa econômica, sustentável, saudável e democrática. Que o futuro da cidade seja guiado por escolhas mais justas e inovadoras para todos.

 

Paulo Pinhal é arquiteto e urbanista