Em seu terceiro ano de mandato e prestes a comemorar os 463 anos de Mogi com uma série de entregas , o prefeito Caio Cunha (Podemos) afirma ter conseguido “trazer foco” para uma Mogi socialmente invisível, ter promovido o equilíbrio financeiro da cidade e ainda ter concluído serviços que fazem a diferença na qualidade de vida da população, como recapeamento de mais de 150 vias, abastecimento de água onde ainda não existia saneamento e o desassoreamento do rio Jundiaí.  

Prestes a entrega uma série de obras ao longo do mês de setembro em comemoração ao aniversário de Mogi, que nessa sexta-feira completa 463 anos, e vivendo um momento politicamente mais tranquilo na cidade, ele se prepara agora para enfrentar um problema antigo que ajudou a combater quando ainda era vereador: a temida cobrança de pedágio nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga.

Em entrevista coletiva concedida na semana passada, Cunha falou sobre as armas que a cidade tem para lutar contra a cobrança, os impactos econômicos que ela pode trazer e a possibilidade de pedir contrapartidas e compensações realmente importantes para município, além de outros projetos, como as mudanças que devem gerar debate mas também o desenvolvimento da cidade com o novo zoneamento da Vila Oliveira.

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Mogi News/Dat: Como você vê o desenvolvimento de Mogi e quais os principais desafios que ainda precisam ser enfrentados?

Caio Cunha: É um privilégio ser prefeito de Mogi, uma cidade tão cheia de diferenças, de contrastes, alguns deles muito interessantes e até apaixonantes, e outros muito preocupantes. Nosso principal desafio no momento é crescer com segurança e qualidade, se desenvolver de fato em todas as áreas. O município teve um pico muito grande de crescimento nos últimos anos. Em dez anos ganhou 100 mil habitantes, mas não se desenvolveu na mesma proporção. Nós passamos por um período muito bom, que era a época do Pré-sal e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), nossa cidade aproveitou para fazer grandes construções, como UPAs (Unidade de Pronto Atendimento), creches e hospital, mas com esses equipamentos aumentou o custeio da cidade. Já o setor empresarial teve pouca evolução. Nos últimos seis anos antes da atual gestão, Mogi raramente esteve na liderança de emprego na região. Pela lógica deveria ser, mas não era. Outro grande desafio é reequilibrar as contas da cidade para resolver os problemas de agora, que são consequência de uma falta de planejamento anterior, mas também para que as próximas gestões não precisem gastar a mesma energia que a gente gasta hoje com os mesmos problemas.

 

Mogi News/Dat: Quais os principais avanços que a cidade teve?

Cunha: Sempre falei durante a campanha que existia uma Mogi invisível e agora não existe mais, porque nós colocamos o foco nela, demos holofote, ao ponto de, por meio de dados evidências, identificar a necessidade e ampliar em dez vezes o orçamento da Assistência Social. A gente tenta equilibrar, não com um passe de mágica, mas em processo, fazendo a administração da cidade pelas suas bordas, para que os bons equipamentos que Mogi já tem hoje, eles recebam melhoria, mas que para isso a gente deixe de lado quem mais precisa.

Fazia dez anos que não tinha desassoreamento no rio Jundiaí, por exemplo, e todo ano tem enchente no Oropó e em Jundiapeba por causa disso. São investimentos que poucas pessoas veem, mas que fazem uma diferença brutal na qualidade de vida da população. Nós mudamos um pouco a lógica, porque pode ter gente dizendo que estamos entregando obra por causa da eleição, mas a gente sempre fez. A gente teve primeiro que equalizar a economia da cidade, dar andamento a obras que são urgentes, como saneamento e regularização fundiária. Parte da Chácara Guanabara não tinha água, por exemplo e nós levamos depois de 20 anos. Não adianta a gente dizer que vai chegar tal empresa, que vamos inaugurar uma obra de brilhar os olhos, se tem gente que passa fome, que passa necessidade de Mogi, que nem consegue vir para a cidade usufruir do que foi feito na região central.

Mogi New/Dat : O Nova Mogi é um projeto que vem mudança a cara de muitos bairros. Qualquer a importância dele para a cidade e para o seu mandato?

Cunha: Esse projeto não deveria, mas acaba sendo uma marca da nossa gestão porque nunca teve um plano de recapeamento e pavimentação na cidade. A gestão que mais fez asfalto foi a do ex-prefeito Valdemar Costa Filho, em quatro mandatos. Se a nossa cidade tem uma malha viária muito antiga e prejudicada, é porque não teve o investimento contínuo em recapeamento. O asfalto tem a vida útil, em rua comum, de no máximo dez anos. Em corredores é um pouco menos. A vida útil das nossas 3 mil vias é de 27 anos, então é muito buraco, a ponto de ter que aumentar três veze mais as equipes de tapa-buraco. Fizemos um investimento de 20 milhões tanto para pavimentação e recapeamento, priorizando os principais corredores e os locais onde nunca teve asfalto. Essa precisa ser um política pública contínua e não um programa. 

Mogi News/ Dat: A cidade se vê tendo que enfrentar novamente a questão dos pedágios na Mogi-Dutra e na Mogi-Bertioga. Qual impacto econômico que essa cobrança tem?

Cunha: É um impacto econômico significativo. Após duas conversas que nós tivemos com o Governo do Estado o projeto melhorou. Atenderam alguns dos nossos pedidos. O mogiano não vai pagar pedágio dentro de Mogi. Fizeram o projeto dentro da modalidade free flow, onde os pórticos vão reconhecer quem é da cidade não vai fazer a cobrança. Também mudaram o local da cobrança na Mogi-Bertioga. Na proposta inicial era próximo da Vila Moraes, um absurdo, e agora seria já chegando próxima da serra. O Estado estava encarando também com benefícios, como uma compensação para a cidade, o investimento de R$ 300 milhões para tornar a Perimetral como uma via expressa, colocando de 4 a 7 viadutos na região de Braz Cubas. Ia isolar essa via, não permitindo que os bairros tivessem acesso direto a ela, ou seja, a cidade seria dividida mais uma vez, além da divisão da linha férrea, mas isso foi descartado. O projeto atual também é no modelo de PPP (Parceria Público-Privada) e não mais concessão. O Estado vai colocar recurso para baratear pedágio, mas mesmo assim é muito prejudicial. Não sou a favor de qualquer cobrança, mas para o mogiano, para o Alto Tietê, já que tem que custear um projeto do Litoral, é muito mais justo que se coloque o pedágio na Mogi-Bertioga em um valor mais alto. Hoje o valor indicado é de R$ 6,12, então que seja cobrado R$ 10 ou R$ 15. Se você comprar uma cerveja long neck na praia vai pagar R$ 15. Mas o fato é que o pedágio acaba sendo um desestimulador de empresas e isso nós temos debatido com o Estado também, porque tivemos um trabalho muito grande para que Mogi se tornasse mais atrativa e agora estamos colhendo os resultados. 

 

Mogi News/Dat: Como você avalia as contrapartidas oferecidas pelo Governo do Estado? Elas justificariam o pedágio? 

Cunha: Não tem contrapartida nenhuma. A estrada do Evangelho Pleno, que eles prometeram  duplicar, tem 1,5 km de extensão. O investimento nessa duplicação seria de R$ 20 milhões e a cobrança renderia mais de R$ 50 milhões em um ano, ou seja, a estrada estaria paga em seis meses.  O fato é que nós não queremos pedágio e vamos continuar brigando até o fim. Perdemos um elemento muito significativo de negociação, que é o processo eleitoral. O ex-governador Rodrigo Garcia não barrou o projeto porque entendeu a dor da nossa população, mas sim recuou porque ano seguinte era eleitoral. O Tarcísio (de Freitas) fica até 2026 e isso muito nos preocupa. O argumento de que a cidade construiu a estrada também não se sustenta legalmente, porque foi o município mesmo que passou a rodovia para o Estado quando foi feita a revitalização e a duplicação. Temos uma guerra muito grande ainda pela frente contra o pedágio e teremos que usar nossas armas.

Mogi News/Dat: Apenas um deputado participou da audiência pública sobre o pedágio. Você se sente lutando sozinho nessa guerra?

Cunha: Entre os prefeitos não. O Condemat (Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê) está muito unido nesse sentido, porque todo mundo entende que prejudica a região como um todo. Mas não podemos ficar calados, não adianta se posicionar só na rede social, só na Imprensa, é preciso ter posicionamentos mais contundentes. Quando e digo isso não estou falando de guerra, de briga, de levianidade, mas sim de posicionamento. É a cidade que está em jogo. Seja qual for o risco que nossos deputados possam correr politicamente por conta disso, eles foram eleitos, boa parte deles por eleitores de Mogi. Fiquei muito assustado quando vi que só o deputado e presidente da Alesp André do Prado esteve presente. Não dá para falar tinha outro compromisso, porque dava para ter participado online, dava para mandar um representante. Força política é muito importante e nessa hora ainda mais. Quando foi para o governador anunciara desistência do pedágio, todos os deputados eles estavam lá, agora é hora de se posicionar. Fiquei chateado, confesso, mas é uma coisa que não se exige, não se obriga, cada um sabe da sua responsabilidade.

Mogi News/Dat: Quais compensações seriam justas no caso do pedágio ser instalado de fato na cidade?

Cunha: O fato é que a cobrança na Mogi-Dutra não justifica qualquer investimento. No pior dos cenários, se perdermos a guerra, não existe nenhum caminho mais a ser seguido, vamos ter que brigar com o Estado para que haja compensações razoáveis para a cidade. Nós temos o KM  51, que seria feita a obra de acesso ao Distrito do Taboão pela rodovia Ayrton Sena. Hoje temos o projeto básico só, falta o executivo e a obra em si. Precisamos também da ponta da estrada da Volta Fria. Não estou levantando isso para fazer uma troca, não é isso, mas se não der certo, vamos ter que brigar. 

Mogi News/Dat: Nesse segundo semestre será votada a Lei de Zoneamento, que poderá definir mudanças na Vila Oliveira. Como esse assunto será tratado e o que a Prefeitura defende? 

Cunha: O projeto inicial está na Câmara, mas as diretrizes ainda vão ser complementadas. A Vila Oliveira está morrendo. Não tem mais o glamour de antigamente e não digo nem por isso, mas não é mais atrativa como antes para o setor imobiliário. Ela precisa de investimento. Tem vários corredores que poderiam ser comerciais, que começaram a se transformar e a gente acredita que pode fazer mais. O grande medo de quem mora na Via Oliveira é ter do lado da sua casa um bar com música ao vivo ou uma igreja, mas isso a lei pode barrar. A Vila Oliveira,  do tamanho que ela é, e ser hoje 100% residencial é um prejuízo para o próprio o morador. Tem algumas pessoas que se posicionam contra e fazem um grande barulho por isso, mas a maioria nem sabe disso. Estou propondo fazer a contratação de uma empresa de pesquisa séria e não esperar que as pessoas venham discutir aqui. Nós vamos de casa em casa na Vila Oliveira apresentando o projeto e questionando se é a favor ou contra. Assim fica de fato mais democrático. As gestões anteriores, por medo de um alvoroço populacional, dos formadores de opinião, não mexeram como deveria. Respeito a opinião dessas pessoas que são contra, mas não posso acreditar que elas são a totalidade de um bairro.