Miriam Nogueira do Valle, a voluntária mais antiga da Santa Casa - e as testemunhas homologam - afirma ter comparecido no hospital durante todos os dias do ano passado, inclusive sábados e domingos. "Sim, ela não teve nenhuma falta", validou o assessora de Imprensa, Marina Barlati, que acompanhou a entrevista ao lado da também voluntária - há 13 anos - Eurídes de Toledo, de 71 anos. "A gente ajuda as pessoas, mas quem ganha é a gente. É isso que eu sinto. Nós, idosos, e eu já me enquadro neste grupo, temos de ter atividades. O idoso que não faz nada é o que adoece mais rápido. Eu, aos 72 anos, não tomo nenhum remédio", explicou.
Miriam emana uma energia positiva que fica explícita após alguns minutos de conversa. Seu corpo franzino esconde uma alma gigante sempre pronta para estender a mão àquele que mais precisa. A voluntária é o tipo de ser humano que dá vontade de abraçar. Apenas abraçar.
É bem provável que este amor sem medida tenha contagiado o ex-paciente Israel. Horas antes da entrevista, ele enviou uma mensagem via WhatsApp para a voluntária. "Ele disse que me ama e que está com saudades", confidenciou.
Israel tem 33 anos e mora no bairro do Piatã. Em 2017, ele foi levado às pressas para a Santa Casa sem os movimentos do corpo, havia sofrido uma queda em uma cama elástica. Fraturou a coluna. "Ele só mexia o globo ocular. Ficou um ano e nove meses na UTI. Nós fizemos de tudo para ajudá-lo. Eu consegui aparelhos respiratórios para ele, inclusive. Em setembro agora, ele saiu da UTI, teve alta e já está comendo e falando", contou, com orgulho.
A lembrança do Israel acabou puxando a memória da voluntária que nos contou sobre outra ex-paciente, a garota Vitória, nascida na Santa Casa, há cerca de quatro anos, com hidrocefalia. "A mãe olhou para a filha e disse que não queria filha defeituosa. Virou as costas e foi embora. Ela tinha uma cabecinha um pouco maior, não andava e não falava. Fez várias cirurgias e nós acabamos ficando com ela aqui no hospital. Arranjamos um berço, a colocamos na pediatria e a criamos aqui até Deus levá-la. Ele morreu aos dois anos. Não faltou nada para ela; fizemos festa de aniversário, batizado... Ela parecia uma princesa. Tinha de tudo, shampoo, roupas boas... Ela reconhecia a minha voz. Eu falava e ela se mexia", detalhou.
Outro episódio ocorreu em época da Festa do Divino. Segundo ela, certa vez - ela não lembra ao certo em qual ano foi - uma rezadeira do Divino estava internada no hospital quando os festeiros visitaram a Santa Casa, como de costume em época de festa, para rezer pelos doentes. "Assim que eles entraram no quarto da rezadeira, sem explicação nenhuma, uma pomba branca entrou pela janela. Quem explica isso?", perguntou.