As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros entraram em vigor nesta quarta-feira (6), mas os reflexos no Alto Tietê começaram ainda nos primeiros anúncios há cerca de um mês. A avaliação é da Frente Empresarial Pró-Indústria (Fempi), com sede em Itaquaquecetuba, que aponta que a região deve escapar dos impactos mais imediatos graças à diversidade produtiva e à lista de produtos isentos. Porém, a entidade alerta que a instabilidade já travou investimentos na região e, se o impasse continuar, os efeitos podem atingir toda a cadeia.
“Desde essa confusão dos anúncios, já começou a prejudicar a região. A data que entrou em vigor é essa quarta, mas isso não mudou muita coisa. As repercussões negativas já vêm desde o começo”, afirmou André Domeni, presidente da Fempi, que reúne cerca de 160 empresas, a maioria indústrias do Alto Tietê.
Segundo Domeni, empresas suspenderam obras e decisões estratégicas não por falta de recursos, mas por insegurança. “As indústrias da região tinham investimentos para fazer e decidiram esperar. Hoje a sensação continua igual, como não está tendo acordo e o governo federal não consegue alinhar a conversa. Todo dia saí uma notícia nova”, disse. "Temos notícias na região de que industrias cancelaram obras, como galpões, por não saber o que vem mais para frente. Se ao menos já fosse decidido como ficaria a situação, mesmo com tarifas, seria melhor", completou.
No Alto Tietê, a variedade de setores e mercados tem sido um fator de proteção, avalia Domeni. “Graças a Deus, nossa região não foi tão atingida por causa da diversidade. Não produzimos só um tipo de exportação. A gente não deve sofrer tanto de forma imediata. Uma coisa bacana nossa é que a gente não tem padrão, um comprador só, e isso ajuda muito", frisa o presidente da Fempi. Ele citou como exemplo o setor de alumínio em Itaquá: “A cidade é um dos líderes na América Latina em alumínio. Felizmente, é um mercado que tem mais potencial de ser exportado para outros países, não depende só dos Estados Unidos.”
Ainda assim, a falta de clareza sobre quais produtos estão incluídos nas tarifas preocupa. “No tarifaço entrou máquina, e não conseguem diferenciar, por exemplo, um trator. Não sei se depois vão tirar isso. Hoje não temos nem como avaliar”, disse, lembrando que há fábricas na região com produção mensal de centenas de equipamentos.
Para ele, se a situação não for resolvida, os efeitos virão. “O tarifaço não foi tão brutal, mas, por causa dessa instabilidade vai ter reflexos na economia, não só pela questão das tarifas e queda das vendas, mas pela incerteza vivida pelas empresas", finaliza.
Agestab
Em nota, a Associação Gestora do Distrito Industrial do Taboão (Agestab) avaliou que a decisão dos Estados Unidos de impor tarifas adicionais afeta diversos setores da indústria. "As empresas do Taboão, em Mogi das Cruzes, a maior área industrial da Região Metropolitana, não está alheia a este cenário. Embora não possamos mensurar o impacto total, é evidente que haverá reflexos sobre a competitividade das empresas brasileiras, principalmente as de pequeno e médio portes, que possuem menor margem de manobra frente a custos adicionais e barreiras comerciais", informou a associação.
Segundo o presidente da Agestab, Osvaldo Baradel, o momento exige serenidade e agilidade do governo brasileiro. "A diplomacia comercial deve ser fortalecida, com diálogo técnico permanente com os Estados Unidos para esclarecer eventuais distorções e buscar soluções negociadas que preservem o fluxo de comércio", destacou.
A associação afirmou ainda que é necessário que o Brasil adote medidas de apoio à indústria nacional, como a desburocratização de processos, redução de carga tributária, incentivos à inovação, ampliação de acordos comerciais com outros mercados e fortalecimento das agências de promoção de exportações, além de acesso ao crédito. "Também é necessário um esforço conjunto entre governo, setor produtivo e entidades de classe para diversificar destinos comerciais e reduzir a dependência de mercados", finaliza a nota.
Ciesp
O Centro das Indústrias do Estados de São Paulo (Ciesp) Alto Tietê também acompanha os novos desdobramentos das tarifas. Em nota, foi informado que está sendo realizada uma análise técnica e, assim que concluída, os resultados serão divulgados.
Tarifas
As tarifas adicionais de 50% sobre parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos foram assinadas na semana passada pelo presidente Donald Trump e começaram a valer nesta quarta-feira (6). A medida atinge 35,9% das mercadorias brasileiras, segundo o governo federal, o que representa cerca de 4% das exportações totais do país. Foram sobretaxados produtos como café, frutas, carnes e máquinas. Outros 700 itens ficaram de fora da lista, entre eles suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis e derivados de celulose e madeira.