Nem sempre fui tocado pela aceitação de tudo o que marcou minha vida. Só a percebi quando inclui o outro, em todo processo de existir! E com isso me senti professor.
Quando vejo retratos, sinto cheiros, escuto uma voz, e me lembro do passado, sinto quão foi rico aceitar. Assim, crio espaço para lembrar de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei, que me aceitaram e como eu os aceitei! Como aceito resíduos de lembranças de minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do último com o qual construí uma realidade de se aceitar. Aceito totalmente desarmado quem me deixou e espero que aceitem as desculpas, quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu saudando, sem me conhecer direito; de quem admiro, e nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Aceito todas as alternativas do presente para que nada deixe de ser aproveitado, com o suporte do passado e apostando num futuro, de paradoxal desafio. Assim, não há porque não aceitar o futuro, que idealizado, provavelmente não será do jeito que imagino, vai ser, mas será aceito com a roupagem que se vai apresentar.
Para aceitar os argumentos dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de soslaio!
Dentro de manifesta gratidão, aceito as coisas que tive e o conformismo, de outras que não tive, mas quis muito ter! Por ter noção daquilo que não sei, aceito as coisas que nem tenho certeza que existem. Aberto à aceitação: aceito as coisas sérias, a palavra que pode transformar, a cavaleiro de ideia lapidar, as coisas hilariantes, os casos mal resolvidos, as experiências marcantes.
Aceito as lições carentes de linguagem, patentes de significado dos animais que de afeto coalharam minha vida. No cume, uma gata preta que para que eu sinta o quanto ela é importante, só basta miar! Ciumeiras à parte, esta sinto, me ama fielmente, como só os felinos são capazes de amar!
Aceito as mensagens, explícitas ou cifradas, dos livros que li e que me fizeram viajar! Aceito as músicas que ouvi e que me arremessaram a um estágio de sonho, difícil de explicar. Aceito as alternativas que o ato de viver me propiciou e das que, por negligência, deixei passar, sem a devida curtição. Como resultado da curtição a estante que atrás de mim insiste em querer, também, galardão postular!