Neste Dia das Mães, celebrado hoje, dia 11 de maio, o protagonismo das mulheres que conciliam a maternidade e o próprio negócio ganha ainda mais relevância. No Alto Tietê, histórias como as de Aline Silva Neri e Joana Flávia Santos, de Mogi das Cruzes, e a de Gisele Cristine Boaventura, de Ferraz de Vasconcelos, mostram que ser mãe pode ser o ponto de partida para transformar a vida por meio do empreendedorismo.
Elas, assim como muitas outras, viveram trajetórias semelhantes: abriram negócios que começaram pequenos após o nascimento dos filhos. Isso porque precisaram encontrar maneiras de conciliar a rotina intensa da casa, estar mais próximas da família e garantir uma nova fonte de renda — tudo isso com uma dose de criatividade e, principalmente, com o apoio dos próprios filhos, que se envolveram ativamente nos empreendimentos.
Empreender foi uma escolha motivada pela necessidade, mas também um gesto de amor e superação para Aline, moradora de Mogi das Cruzes. Foram os negócios — e o apoio do filho — que, como ela conta, a "salvaram" de uma depressão.
Mãe do Pietro, de 12 anos, Aline começou o próprio negócio em dezembro de 2023, transformando a sala do apartamento onde vive, no distrito de Braz Cubas, em um ponto de venda de roupas. A decisão veio depois de um longo período fora do mercado de trabalho, após o nascimento do filho e durante uma fase delicada em sua vida. “Eu tirei o sofá da sala e isso me impactou bastante. Foi o início da virada”, conta.
Além de ser uma forma de driblar as dificuldades causadas pelos altos preços dos aluguéis, transformar a própria casa em loja permitiu que ela estivesse mais próxima da rotina do filho — seu maior desejo. E, com o tempo, percebeu que ele também se interessava em ajudar.
A maternidade sempre esteve no centro da trajetória de Aline e ela viu na proximidade com o Pietro um combustível para seguir em frente. “Quis mostrar para ele que a gente tem que trabalhar, correr atrás. Hoje ele me ajuda com os vídeos, se interessa, divulga a loja comigo. Até vai para o Brás (bairro da capital) comprar roupas comigo às vezes”, disse.
Com o apoio do marido, Claiton, Aline administra a loja de roupas, que cresce tanto nas vendas quanto nas redes sociais. Já são mais de 47 mil seguidores no Instagram, e um dos vídeos chegou a alcançar 1,5 milhão de visualizações. “Tive muito medo de montar o perfil por medo de críticas, mas, graças a Deus, só recebi coisas positivas. Muitas mulheres empreendedoras começaram a me mandar mensagens contando suas histórias”, contou.
O começo foi demorado, mas a persistência ajudou. Nas redes, ela aposta em vídeos divertidos e com dicas de negócios, sempre ao lado da família. Aliás, Aline continua morando no mesmo local, mas a sala foi completamente adaptada para as vendas — o sofá deu lugar às araras e à decoração da loja. A empresária também convive com dislexia — um distúrbio genético que dificulta o aprendizado e a realização da leitura e da escrita —, o que torna os desafios do dia a dia ainda maiores, mas conta com o suporte constante do filho e do marido. “É desafiador pra mim todo dia, mas vale a pena. Hoje, meu filho é meu maior incentivador.”
Como conselho para outras mães que pensam em empreender, a empresária incentiva “Não desistam. Muitas vezes a gente deixa de trabalhar fora para cuidar dos filhos, mas pode dar certo. Com tempo, fé e esforço, a gente consegue.” Para o futuro, ela planeja expandir os negócios.
Jornada de capacitação
Outra história inspiradora vem de Gisele. Mãe de duas filhas, iniciou seu negócio em 2017, aos 43 anos, após atuar em diversas áreas. Foi quando decidiu adquirir a franquia de uma escola de cursos profissionalizantes em Ferraz de Vasconcelos. “Todo mundo achava que eu estava fazendo a maior loucura da minha vida. E minha filha mais nova (Rafaella) tinha só 2 anos”, relembra. Desde o início, a caçula esteve presente na rotina da escola. Hoje, ela circula pela unidade com um “crachá próprio” e se considera parte da equipe.
A filha mais velha, Isabella, também passou a integrar o negócio. Depois de trabalhar em outra escola, ela se juntou à mãe três anos após a aquisição da unidade de Ferraz. Começou como secretária, passou pela área financeira e hoje atua como gestora. Atualmente, a unidade cresceu de 200 para 500 metros quadrados e atende cerca de 200 alunos, com capacidade para mil. A jornada recente tem sido marcada por desafios, como dificuldades financeiras e a recomposição da equipe, mas Gisele segue confiante e sempre com o apoio do marido e filhas.
Os cursos oferecidos abrangem áreas como beleza, gastronomia, administração e tecnologia — com formações em cabeleireiro, chef profissional, criação de games, web design, entre outros. “Qualifico a mão de obra, mas também formo empreendedores”, afirmou. A convivência com mães que buscam transformação por meio do estudo faz parte da rotina. Gisele recomenda que mulheres, especialmente mães, invistam na própria formação. “Já tive, em Ferraz, uma família inteira fazendo curso: a mãe, o filho... É muito legal ver isso.”
Segundo ela, os cursos foram pensados para se ajustar ao cotidiano corrido dessas mães. “Sabemos que a rotina é um turbilhão, então nossas aulas são uma vez por semana. Isso ajuda a conciliar com outras responsabilidades.” Mais do que os resultados financeiros, Gisele valoriza as histórias que vê nascer dentro das salas de aula. “O meu maior pagamento é ver o sucesso dos meus alunos.”
Novos caminhos
Joana, 44 anos, tem mais de uma década de experiência no setor moveleiro e uma trajetória empreendedora que começou com um desejo de estar mais perto dos filhos. Depois de enfrentar dificuldades para ampliar a licença-maternidade no antigo trabalho, decidiu deixar o regime CLT e abrir o próprio negócio. “Eu resolvi empreender depois que pedi uma licença maior ao meu patrão, pois tinha ganhado o meu segundo filho, mas, na época, ele não me concedeu, colocou empecilhos. E aí resolvi empreender. Era contratada e depois abri minha própria marcenaria”, contou.
Com o apoio do Sebrae e baseando-se em sua expertise no ramo, ela montou uma marcenaria em Mogi das Cruzes ao lado do marido. No início, a atuação era restrita ao bairro, e com o tempo, a empresa foi crescendo e hoje tem clientes em toda a Grande São Paulo e até em outros Estados. A empresa familiar já soma quase 15 anos de história e envolveu também os filhos, Luiz Felipe, de 24 anos, e Guilherme, de 17. “Na adolescência colocamos eles para auxiliar. Foram pegando o gosto. Ambos trabalham na marcenaria, o que me possibilitou trabalhar em outra área”, explica.
Com os filhos assumindo responsabilidades no negócio, Joana passou a empreender também no setor de arquitetura e interiores. Apesar do início desafiador, ela destaca que sua bagagem anterior foi fundamental para a mudança. “Já tinha alguns anos de experiência no setor, o que me ajudou, mas foi mais difícil sem a estrutura fixa que eu tinha antes”, relata. Hoje, ela vê nos filhos o reflexo do esforço que começou lá atrás — uma escolha que uniu família e trabalho, e ainda abriu caminho para novas possibilidades profissionais.
Mercado aquecido
O Dia das Mães deve beneficiar cerca de 663 mil pequenos negócios no Estado de São Paulo neste ano — entre eles, 477 mil microempreendedores individuais (MEIs). A data, uma das mais importantes para o comércio, deve gerar um gasto médio de R$ 298,20 por consumidor, com destaque para cosméticos, roupas e chocolates. Em comparação com 2024, o aumento real no valor gasto deverá ser de 3,5%. Os dados foram compartilhados pelo Sebrae e são da pesquisa Dia das Mães 2025, realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Galeria
Foto 1 - Joana vem investindo em novas possibilidades profissionais
Foto 2 - Com o apoio da família, Aline planeja expandir os negócios em breve