As capas dos jornais Dat e Mogi News de ontem tratavam de um mesmo assunto, em cidades diferentes. Em Itaquaquecetuba, uma mulher morreu após dar à luz no Hospital Santa Marcelina, enquanto na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Rodeio, em Mogi das Cruzes, uma criança faleceu após ser levada ao local. Nos dois casos, há indícios de irresponsabilidade por parte de alguém.
No caso de Itaquá, um boletim de ocorrência foi registrado pela Polícia Civil como homicídio culposo, aquele onde não existe a intenção de matar. A família da vítima alega que médicos não quiseram fazer o parto cesariano, o que seria um dos motivos da morte. A falta de informações por parte do hospital aos parentes da gestante também foi alvo de críticas. A Secretaria de Estado da Saúde anunciou ontem que vai instaurar sindicância para apurar a ocorrência.
Em Mogi, uma bebê de 10 meses foi levada à UPA do Jardim Rodeio, onde não havia máscara de oxigênio. Além disso, estava passando mal e precisava ser levada para um hospital, no entanto a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) demorou para chegar na unidade e ela não sobreviveu.
As duas mortes ocorreram na última sexta-feira, mas somente anteontem as famílias começaram a dar prosseguimento às medidas que serão tomadas. Até o momento, não há um profissional culpado, mas parece não haver dúvidas de que as mortes poderiam ser evitadas, principalmente se houvesse um trabalho mais comprometido nas duas unidades de saúde.
Infelizmente, casos como esses não são raros. As Santas Casas, por exemplo, durante muitos anos acumularam mortes causadas por falta de médicos, equipamentos ou por causa de procedimentos errados. Que a situação não se resolverá de um dia para outro, sabemos que não, mas precisamos ficar atentos aos erros que se repetem com frequência.
Um deles é a falta de informação. Em praticamente toda ocorrência dentro de hospitais, a primeira coisa que os parentes das vítimas reclamam é que não sabem o que estava acontecendo, que as informações eram mal explicadas e que não entendiam os motivos dos médicos agirem de uma forma ou de outra. Neste caso, por mais difícil que seja explicar uma situação complexa para um leigo, é obrigação a família do paciente saber o que será feito.
Outros fatores determinantes para as mortes são intoleráveis. A falta de profissionais e de equipamentos básicos, como uma máscara de oxigênio, mostra que a responsabilidade na prestação dos serviços de saúde precisa melhorar.