Comparando as diversas formas de sociedade conhecidas, percebemos que só na modernidade a noção de indivíduo ganhou maior relevância. Até então, pouco valor se dava à pessoa única. A importância do indivíduo estava inserida no grupo ao qual pertencia (família, Estado, clã, etc.). Mesmo considerando as diferenças naturais entre os indivíduos, não havia sequer a hipótese de pensar em alguém desvinculado de seu grupo.
Já no século XVI com o movimento protestante e depois (século XVIII) com a Revolução Industrial, o pensamento liberal coloca a felicidade humana no centro das atenções, mas a individualiza por conquistas materiais.
No entanto, por mais que os pressupostos filosóficos dessa nova sociedade celebrem o processo de afirmação das individualidades, o homem permanece na condição de "ser social". Ele se encontra inserido em um conjunto de redes sociais mais ampla e é justamente nesses grupos que ele adquire sua identidade, como ser humano, e os meios fundamentais para a sua sobrevivência.
Por mais que as contradições entre essas duas dimensões sejam percebidas desde o início desse processo é justamente com o desenvolvimento dos grandes centros urbanos que elas mais se aprofundam. As grandes cidades aproximam fisicamente as pessoas, mas as tornam mais individualistas.
Temos a ação cooperativa como característica maior da nossa existência. Sobrevivemos como espécie por termos tal capacidade. Mas hoje fazemos parte de uma sociedade que qualifica os indivíduos pela sua capacidade de competir.
Estamos nos aglomerando em infindáveis metrópoles e dispostos a passar por cima dos outros para atingir sonhos que se resumem ao "ter". As pessoas se tornaram mais individualistas, egoístas e narcisistas.
Quando as pessoas se consideram mais importantes do que o grupo no qual estão inseridas perdemos muitas das nossas virtudes. O indivíduo só se viabilliza fazendo parte de um grupo.
Os espaços comuns devem ser espaços de convivência. A importância de cada um deve ser relativizada, para que o todo ganhe importância. O que leva as pessoas a pararem no meio de corredores, por onde circula muita gente, é a incapacidade de perceberem o mundo como um espaço compartilhado com outras pessoas.
Infelizmente isso está se tornando regra.