“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. O verso da música de Lulu Santos serviu de inspiração para o professor Paulo de Tarso Almeida Paiva, ex-ministro do Trabalho e também de Planejamento e Orçamento do governo FHC, definir o cenário econômico a se esperar do Brasil diante da crise atual. Em encontro com executivos de diversas empresas do Alto Tietê, nesta quarta-feira, em Mogi das Cruzes, ele previu a retomada da economia brasileira só a partir de 2018 e adiantou que o crescimento será bem mais modesto do que o registrado até quatro anos atrás.
Para os gestores das empresas, o professor também deixou uma orientação: tomar os remos do barco, esquecer as ondas e conduzir olhando para o horizonte. Na prática, os executivos devem olhar a essência das empresas e buscar a eficiência, investindo em produtividade e otimizando a inovação, com uma pitada boa de ousadia.
“Praticamente não se olhou para a essência das empresas de 2004 a 2011. Com um cenário de crescimento e demanda em alta, coisas que precisavam ser feitas foram deixadas para depois. Agora, precisam ser feitas, pois o cenário requer que as empresas sejam mais competitivas e eficientes”, ressaltou o ex-ministro, que é professor da Fundação Dom Cabral e esteve em Mogi das Cruzes a convite da Effectio, associada da escola de negócios e com atuação no Alto Tietê e Baixada Santista.
Durante um diálogo com os executivos de indústrias, empresas de saúde e de outros segmentos, o ex-ministro avaliou que a atual crise econômica não é a pior da história brasileira se comparada à crise cambial dos anos 80 ou da hiperinflação, de 20 anos atrás, quando os preços subiam durante o dia. E também não teria a mesma proporção se não tivesse o componente a mais da crise política.
Na análise do professor, que foi vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a situação hoje é de “Stagflação”, resultado da conjunção de Produto Interno Bruto (PIB) em queda e inflação em alta, com o acréscimo do desequilíbrio das contas públicas. “A falta de crescimento é a parte mais ruim desse cenário”, pontuou.
Até por conta das crises mais graves citadas anteriormente, Paiva disse não ter dúvidas de que as dificuldades econômicas atuais serão superadas, ainda que não se saiba quando. Pelos indicadores disponíveis, e principalmente pela experiência de quem já foi ministro de Planejamento, o professor acredita que a retomada da economia vai se dar a partir de 2018, o que significa aí mais dois anos de dificuldades - na sua avaliação, é melhor se planejar para o pior e ter uma notícia positiva, do que o contrário.
E essa retomada não se dará com crescimento nos mesmos patamares registrados entre 2004 a 2011, quando o PIB do Brasil cresceu numa média de 4,5% ao ano. Ele aposta numa evolução mais próxima de 2,5%. Segundo Paiva, uma das explicações para isso está no fato de que, historicamente, a economia não cresce de forma linear, mas em ciclos de expansão e desaceleração.