O Café com Mogi News desta terça-feira (24) destaca, especialmente neste mês quando se comemora a Luta da Pessoa com Deficiência, celebrada no último dia 21, a organização social Trabalho de Apoio a Deficientes (Tradef), de Mogi das Cruzes. Criada há mais de 30 anos, a instituição é uma referência na integração social e no mercado de trabalho das pessoas com deficiência na cidade e na região. Atualmente são atendidas 80 pessoas com deficiência, com idades entre 18 e 59 anos, e suas famílias. E o que era apenas um serviço de convivência, hoje é uma atendimento de Média Complexidade.

A convidada do novo episódio é a assistente social e presidente do Tradef, Susana Miranda Rocha. Ela está no Tradef há 12 anos, onde começou como estagiária. "Eu sempre trabalhei na área da saúde e resolvi fazer a Faculdade de Serviço Social pensando em conhecer mesmo a pessoa com deficiência. Então, eu fiz o estágio, fui contratada como assistente social e fiquei até hoje, porque eu gosto da causa, eu gosto da da luta da pessoa com deficiência", contou.

O trabalho começou em 1985 na então Faculdade Braz Cubas, com a professora de Psicologia, Ieda Tereza Boucault. "Havia vários alunos com deficiência que a procuravam e ela dava o atendimento. Como a demanda das pessoas com deficiência foi aumentando muito, ela resolveu fundar uma ONG, hoje uma OSC (Organização da Sociedade Civil). Na época, a faculdade Braz Cubas cedeu um espaço, uma casa, e desde esse início, tudo era voltado para o acesso da pessoa com deficiência aos seus direitos, acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC)", explicou Susana. 

A entidade, segundo sua presidente, chegou a atender na ocasião 204 pessoas com deficiência, e com a maior demanda, mudou para o bairro São João, em espaço que foi cedido pela EDP. Entre as oficinas oferecidas, estão atividades voltadas para as rotinas da vida diária, karátê adaptado, e yoga. O Tradef conta com a parceria da Prefeitura de Mogi. 

Desafios

Susana destacou as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, e como o Tradef ajuda para que tenham autonomia e possam conquistar seu espaço. "Elas têm difícil acesso ao trabalho, à comunidade, à inclusão, ficam mais em isolamento social. O Tradef procura dar visibilidade para a pessoa com deficiência. Nós encaminhamos para o mercado de trabalho. Nós trabalhamos uma oficina de como se comportar no mercado de trabalho. É feito triagem e, de acordo com a lei de cotas, as empresas precisam ter pessoas com deficiência. Como as empresas não têm acessibilidade, não tem atividade laboral para eles ficarem na empresa, nós acolhemos esses usuários no Tradef. No Tradef, eles participam das oficinas e recebem o salário. Não são todos, é um projeto à parte", destacou a presidente da entidade. 

Mesmo com a lei de cotas são muitos os desafios para as próprias empresas. "Eles não são capacitados para recebê-los. Nós temos a psicóloga Simone, a Ana Patrícia que é pedagoga, temos nutricionista, orientadores, educadores sociais, uma cuidadora e o coordenador técnico. É feito todo um trabalho com essa equipe multidisciplinar, a nutricionista, ela faz avaliação nutricional, nós servimos almoço, café da manhã, café da tarde e tudo com qualidade", salientou Susana. 

As famílias também recebem o apoio da instituição, como explicou Susana: "Quando passam na triagem é conversado, eles passam pelo plano individual familiar. Nesse plano são traçadas metas de atendimento, o que é necessário fazer para essa família. Rompe-se esse vínculo de superproteção. No Tradef, eles socializam, eles têm mais liberdade e autonomia".

Parcerias 

Para manter a entidade, além do apoio da Prefeitura, há parceria com o Sesc, que semanalmente doa frutas, legumes e verduras, além do supermercado Shibata, que também é um doador e recebe pessoas com deficiência encaminhadas pelo Tradef para trabalhar na rede. "A gente recebe parceria de algumas empresas, e nós queremos mais parcerias para a gente poder manter o projeto", convida Susana, destacando também a importância dos voluntários, responsáveis pelas oficinas.

Na sexta-feira (27), o Tradef realiza o Bazar da Primavera, com a venda de roupas novas e usadas em bom estado na própria sede, no bairro São João. "São roupas usadas e também às vezes tem algumas roupas novas, tudo doação que a gente recebe da população. Também vai ter os expositores com preço acessível", contou a presidente. A instituição também mantém um bazar permanente, com peças a R$ 1,00 para ajudar a manter as atividades. 

Planos 

Susana vê com otimismo o futuro do Tradef, com a posse da nova direção neste ano, na qual ela é presidente: "O desafio é muito grande, e a nossa equipe toda é empenhada para poder mudar essa situação. Nós temos um trabalho mais humanizado, e gente está querendo arrecadar bastante verba para mudar, porque assim a gente proporciona passeios. Eles vão no Sesc, nós fomos em um museu em São Paulo, todas são atividades que a gente faz com recursos próprios. Toda essa verba que a gente arrecada é para melhorias para eles mesmos. A gente está com essa expectativa de mudança até o fim do ano".

Um dos destaques para arrecadação de recursos são os bingos abertos à comunidade, que, segundo Susana, reúnem aproximadamente 200 pessoas. "Na verdade, a gente precisa da doação de prendas dos comerciantes, Nós mandamos ofício para eles mandarem prendas para nós para os bingos. Isso é muito bacana, os usuários participam, para eles é uma alegria, é uma atividade diferente", destacou a entrevistada. 

Talentos 

Em mais de 30 anos, segundo a presidente, já foram encaminhadas mais de 800 pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. "É muito interessante os depoimentos das pessoas que agora têm uma casa, têm uma renda e conseguiram um emprego. Para eles é satisfatório. O Tradef foi assim, o pilar para conseguirem esses empregos. É muito gratificante para a gente saber que essas pessoas têm autonomia. Pessoas que não conseguiam andar sozinhas, e hoje em dia eles conseguem pegar o ônibus, fazer uma compra no supermercado, mexer no celular", salientou Susana.

O Tradef também abre espaço para novos talentos, como contou a presidente: "Nós temos usuários que têm Síndrome de Down e toca bateria, que toca instrumentos, cantam. A gente faz a atividade 'Descobrindo Talentos', e eles se soltam mesmo. Você vê que a pessoa com deficiência ela tem capacidade, ela tem os direitos de um cidadão comum, como se a deficiência para ela fosse só um impedimento, mas ela tem a conquista dela, os sonhos dela, ela tem o direito de casamento, ela pode ter uma vida social". 

Inclusão social 

Para o Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, Susana disse que acredito que a pessoa com deficiência tem que ir à luta mesmo, e realizar os seus sonhos: "Ela tem direitos, não tem que ficar invisível. Ela tem sim que desenvolver essas potencialidades, porque ela é capaz e o Tradef está lá para acolher. Estamos de braços abertos para acolher e suprir essas necessidades". 

A entrevistada também destacou a importância da mudança cultural: "A sociedade tem que ter mais o olhar para a pessoa com deficiência e abrir espaço para ela, principalmente nas empresas, com acessibilidade, ter capacitações, cursos. Enfim, a pessoa com deficiência tem que ser mais vista como um ser humano capaz. E ocupar os seus espaços, espaços públicos, o poder de voto". 

Tradef

O Tradef está localizado na avenida José Glicério de Melo, 100 – Alto da Boa Vista, Mogi das Cruzes. Pessoas com deficiência que buscam acolhimento e os interessados em colaborar, como voluntários ou doadores, podem entrar em contato pelos telefones (11) 4790-3255 ou (11) 4762-1877. 

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