O Centro de Convivência e Apoio ao Paciente com Câncer (Cecan) há mais de duas décadas vem fazendo a diferença na vida de pacientes e familiares. A sede em Mogi das Cruzes segue o espírito do logo da instituição é uma casa, onde se encontra acolhimento, além de oficinas e diferentes atividades, atendendo também pessoas de outras cidades da região. Quem fala sobre o Cecan no novo episódio do Café com Mogi News é a psicóloga e gerente da entidade, Andreia Melo, que trabalha no Cecan há 20 anos. 

"O Cecan começou em 2002 com a Dra. Raquel (Breviglieri), médica,. Ela não gostaria de simplesmente dar o diagnóstico, mas um suporte para o paciente, porque a notícia da doença não é fácil. Ainda tem a morte associada ao câncer, mesmo com os tratamentos e tudo que a ciência evoluiu. Uma amiga que ia fazer visita acabava se emocionando, então elas resolveram mudar um pouco. Essa mesma amiga, artista plástica, começou a dar aulas na garagem de uma outra amiga. E foi crescendo com artesanato e outras atividades e houve a necessidade realmente do registro, abrir uma entidade com CNPJ, tudo regularizado", contou a gerente.

A primeira sede foi na rua Fausta Duarte de Araújo, depois na Benedito Ferreira de Souza e, hoje, o Cecan está na Braz de Pina. "O Cecan antes era procurado pelo atendimento psicológico, muito necessário, claro, para o paciente e para o familiar. O nosso público predominante é mulheres, acima de 45 anos com câncer de mama. Ela fazia artesanato, depois viu a necessidade de olhar para si. 'Eu preciso estar bem para poder me curar, cuidar da família'. O homem é cuidado em casa. A gente tem alguns homens que frequentam o Cecan, mas são poucos. Fazem violão e outras atividades. O público predominante é feminino. Então, começou com massagem, drenagem linfática, e outros atendimentos, e hoje está maior", explicou Andreia. 

Antes do Cecan, a gerente da instituição trabalhava em uma consultoria em educação. Formada em Psicologia, ela foi apresentada ao trabalho, e comçou fazendo folhetos de prevenção para divulgação: "Comecei a ir uma tarde, duas tardes, depois contrato. E assim foi, brinco que tenho a plaquinha".  

Nestes 20 anos, Andreia acompanhou o desenvolvimento do Cecan: "É interessante ver a evolução e como isso é importante, ter um espaço para o paciente e o familiar. O tratamento médico é feito fora, em clínicas e hospitais, ali é uma casa para acolhimento, e é isso que a gente quer também, como o logotipo do Cecan, uma casinha. Uma paciente pintou o logotipo com giz, então por isso que, às vezes, não é aquele “giz chapado”, como o pessoal da arte fala. É isso que queremos, essa humanização, esse acolhimento. Tem um tempo que peguei um Uber e a moça relatou a experiência dela no Cecan, que vai para lá e não sente o cheiro de hospital, não escuta o som da senha, então ela vai para uma casa, senta num sofá, toma um café". 

Voluntários 

Para esse atendimento diferenciado, o Cecan conta com 83 voluntários, divididos entre as diferentes ações, como o atendimento direto ao paciente e do brechó realizado para captar recursos, que ocorre na sede. "Tem os voluntários que lançam cupom fiscal, que também é uma forma de captar recursos; de eventos, quando fazemos algum eles nos ajudam. Tem os designers gráficos que faz as artes pra gente poder divulgar algum ou um evento, uma reunião, ou alguma coisa nas mídias sociais. Por isso esse número grande de voluntários. Tem aqueles que vão na casa e perguntam: 'o que eu vou fazer hoje?'. 'Hoje você vai organizar cupom, ajudar a embrulhar...'. Tinha uma que até falava que o apelido dela era Peteca, porque ela ia para lá e para cá", destacou. 

Andreia reforça que qualquer um pode ser um voluntário. "Nós temos uma costureira. Nós ganhamos umas camisetas e não sabíamos o que fazer com elas, porque não podia usar o logotipo. Elas viraram pano de limpeza, nós cortamos as camisetas, o logotipo, mandamos para a costureira cortado e ela fez. Ganhamos tecido voil, eram cortes pequenos, o que ela fez? Fez cortina, costurou, está lá na garagem. Todo mundo pode ajudar de alguma forma. Às vezes a própria pessoa tem a resposta. Quando a pessoa quer ser voluntária, ela passa por uma triagem, com toda a documentação, assina o termo de voluntariado, autorização de imagem, todo um processo, tem um crachá", explicou. 

O trabalho voluntário também é aberto para todas as idades, e também de outras localidades. Os designers gráficos que atuam junto ao Cecan, estão em Brasília e em Itaquaquecetuba. "Muitas escolas conseguem nos ajudar. Há um tempo atrás teve uma escola que fez um mutirão para lançar cupom, mas foi um caso diferente. O voluntariado é muito forte", contou Andreia. No último dia 28 de agosto, Dia do Voluntariado, foi realizada uma reunião com a equipe. "A gente faz o reconhecimento para eles, porque a ajuda é fundamental, e pode ser a distância, porque tem esses designers gráficos, um de Brasília e um de Itaquá. Fizemos a divulgação numa plataforma de voluntariado e houve a inscrição e eles ficaram. Nós mandamos on-line o pedido, explicamos e eles mandam a arte no aconchego de casa", completou. 

Doações e parcerias 

Para manter as atividades, o Cecan conta com uma subvenção municipal e tem como uma grande parceira, a Secretaria de Saúde de Mogi das Cruzes, além de outras ações para captação de fundos, como o brechó. "A gente recebe doação de roupas; calçados; brinquedos; acessórios; itens de decoração pequenos, porque o nosso espaço não é muito grande; livros paradidáticos, literatura, ficção", destacou a gerente. 

Destaque para a geladeiroteca para os pacientes, que foi doada pelo Rotary, "É envelopada, e tem hora que perguntam: 'o que aquela geladeira está fazendo ali?'. Nós abrimos, e ela está recheada de livros. E esse brechó funciona de segunda a sexta-feira, é claro, com a ajuda dessas voluntárias, porque tem uma comanda, tem um controle de estoque, que depois vai para o contador, tudo ali monetizado direitinho. A própria hora voluntária também, por conta de balanço financeiro. Às vezes a gente pede para a pessoa ligar, para poder ver o horário que está aberto", detalhou Andreia. 

Outra fonte de recursos são os cupom fiscais doados, por meio do programa Nota Fiscal Paulista. O Cecan conta com urnas espalhadas em 25 pontos de coleta,. que depois são recolhidos por voluntários, e na própria sede.  "E isto é muito importante. Eu brinco que é o nosso pote de ouro no final do arco-íris, porque dá retorno".

As doações do cupom, podem ser feitas em compras, sem o registro do CPF, ou caso tenha o número do documento, Andreia explica que é possível entrar no programa da Nota Fiscal Paulista e efetuar a doação: "Tem também a doação automática, que é o meu caso. Eu me cadastrei para ser doadora automática do Cecan, no próprio site. Eu peço no meu CPF e automaticamente já vai para o Cecan". São também voluntários que organizam os cupons e fazem os lançamentos, além de apoio para uma lista das necessidades da instituição, que depois são repassadas aos parceiros, como o Rotary, a Maçonaria e Lions. 

Outra parceria foi realizada com uma grande loja de departamentos da cidade, que fez uma campanha de troco solidário durante cinco meses. "Imagina a pessoa passando no caixa, e a moça ou rapaz pergunta se o cliente pode doar o seu troco. Juntando, arrecadaram R$ 20 mil. O que a gente fez? Reserva, porque final do ano, décimo terceiro, férias, tudo isso. É uma forma também de trabalhar para poder ter uma retaguarda", contou Andreia. Outras empresas, segundo ela, auxiliam com o próprio produto ou contribuindo para a realização de festas no Cecan ou para a participação da instituição em eventos com barracas, cedendo ingredientes por exemplo. A entidade também participa de editais, com diferentes destinação de recursos, como a compra de equipamentos. 

Acolhimento 

O Cecan realiza festas para integração de funcionários, voluntários e pacientes. "Nós fizemos, no começo do ano, uma reunião de prestação de contas do ano que passou e do que íamos fazer nesse ano. Eles mesmos disseram que não tinham noção de que o Cecan fazia tudo isso. Apesar de ter lá no quadro de avisos a grade de como que a gente atende, às vezes eles chegam, fazem o atendimento e acabam não olhando. Então foi bom passar para essa visão do que foi e do que a gente pode fazer para eles também poderem replicar", afirmou Andreia.

Pandemia

Um dos grandes desafios foi vivido durante a pandemia de Covid-19, segundo a gerente do Cecan: "Nos perguntávamos: 'E agora?'. Lá fomos nós, desenvolvemos um kit que era um saco kraft. Mandávamos alguns alimentos que a gente tinha; atividades;, no inverno, touca, porque nesse mesmo clube da cidade tem um grupo de crochê e tricô, então elas faziam e mandavam. Começamos a mandar esse kit todo mês,  que era uma forma de estar perto do paciente. A gente ia entregar, alguns quando podiam iam retirar.  Teve uma época que ganhamos um rolo de plástico bolha. Lá fomos nós, cortamos e escrevemos: 'anti-estresse' e grampeamos". 

O trabalho desenvolvido na pandemia envolveu os funcionários e voluntários. "Uma paciente, quando chegou na recepção, contou que pensou que íamos esquecer deles, por não ter o presencial, e nós dissemos que estávamos lá por eles. Ela dizia que não via a hora de receber o kit todo mês para ver o que nós tínhamos preparado", contou Andreia, que destacou que cada kit tinha uma surpresa diferente, como uma mochila feita com o papel doado por uma papelaria, e lápis para desenhar. "Tínhamos que pensar o que eles queriam e também perguntávamos. Foi uma forma de estar junto com eles. 

Prevenção 

Outro destaque do trabalho do Cecan é na prevenção ao câncer, com a produção de folhetos e também visitas a empresas, como contou Andreia. "Nós participamos e promovemos algumas ações, e isso me faz lembrar uma empresa que nós fomos. Era a Cipat, e nós fomos nos três horários, 11 horas da manhã, 18 horas e 3 horas da manhã. É bom isso, a empresa também querer falar de prevenção. Desta empresa, com bastante público feminino, e quando mostramos isso (o Mamamiga, que mostra a identificação de um nódulo no seio), começa o disse que me disse. É uma forma didática de mostrar o dedilhar. É claro que o autoexame não substitui os exames, a mamografia, nada, mas é uma forma da mulher conhecer o corpo. Nós ensinamos a dedilhar, porque nós temos nódulos. Eu tinha nódulo antes da minha filha nascer, depois ela nasceu, dois e agora, os três sumiram. É isso, é o acompanhamento". 

A equipe do Cecan explica como levantar o braço para o autoexame e todo o procedimento. "Imagina a mulher sentindo isso e não podendo ir no médico tirar. Não é assim, tem que passar por um processo. Quando participávamos de algumas ações da Prefeitura em bairros, lembro de uma senhora que disse: 'Filha, vai demorar pra passar o médico', e eu disse para ela que o tempo ia passar do mesmo jeito. Falei para ela anotar no celular, ou se tivesse, como a minha mãe, um calendário, para marcar a data para não perder. E assim começa, tem que começar, e é muito importante essa forma didática de explicar, de ensinar, porque não é atrativo. Eu lembro quando a gente ia participar, nós que às vezes tínhamos que chamar a pessoa, ou as vezes quando chegavam, é porque já tinha algum parente, algum familiar, e buscava informação, e quando a gente falava sobre o tratamento gratuito, perguntavam: 'por que gratuito?', porque alguém quer, alguém colabora, e nós estamos lá para isso", destacou Andreia. 

A prevenção, segundo a gerente do Cecan, precisa se tornar um hábito. "A gente até que tem uma estrutura boa aqui no número de UBS (Unidades Básicas de Saúde), e tudo isso é muito importante. Não é hábito do brasileiro a prevenção. 'Eu vou pra quê? É para achar?' Não, é para descobrir precocemente. Em 2008, nós fizemos uma ação com a Mônica Serra e foi muito interessante porque ela tinha o colar que mostrava os níveis da descoberta do tumor, as chances de cura. Então, tem várias ações. Nos procuram muito no Outubro Rosa e no Novembro Azul, é claro, não achamos isso ruim, mas o excelente seria falar de prevenção de câncer o ano todo, porque tem essas campanhas coloridas, tem relacionadas ao câncer e tem também relacionadas a saúde", salientou. 

Além das empresas, o trabalho preventivo é levado para escolas e igrejas, de acordo com Andreia. "A prevenção também se faz com a informação, tem exame, sim, mas também com a informação", ressaltou. 

Próximas ações

Depois do Dia Nacional do Voluntariado, realizado em agosto, a equipe do Cecan se prepara para ações do  Outubro Rosa e do Novembro Azul. Também na programação um bazar da Black Friday, promovido geralmente uns dias antes da data de descontos oferecidos pelo comércio em geral, em novembro. O encerramento do ano é feita como uma grande comemoração para valorizar a vida, apesar das perdas. Andreia conta que quando morre algum paciente, a família participa de um programa de atenção especial com suporte da equipe técnica durante um período. 

Há ainda o Dia de Doar, comemorado no dia 3 de dezembro, que nem todos conhecem. Andreia destacou que o Cecan faz campanhãs de doação para a sacola de Natal, com itens como macarrão, molho, panetone, doce em calda para poder facilitar, suco de uva simbolizando o vinho, além de artigos para o brechó. Tudo que é recebido acaba ajudando e se transformando para ajudar os pacientes. 

"Nós ganhamos há um tempo, de um hotel grande aqui da região, camas, edredons, travesseiro, e lá fomos nós emprestar a garagem do vizinho, porque não cabia no Cecan. Foi uma forma também de um recurso que conseguimos. O brechó dá um bom retorno e os preços são R$ 2, 5, 8, 10, são coisas baratas. Eu chamo quem tem brechó de "brechoseiras", então elas compram para revender. Quando fazemos Black Friday ou alguma queima de estoque, são as primeiras que entram com sacola gigante quando abrimos o portão", contou. 

Futuro 

Os planos para o futuro do Cecan incluem uma sede própria, e expandir as atividades para atender outros públicos, diversificando as fontes de captação de recursos. E também, como salientou Andreia, sempre em busca de informações para o melhor para os pacientes, como a nova lei municipal para oferta de práticas integrativas e complementares na rede de saúde de Mogi. 

Saiba mais

O Cecan está localizada na Av. Braz de Pina, 26 – Vila Vitória. A equipe conta com sete funcionários, além de diversos voluntários, e o atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 4794-7003 ou p erfil no Instagram @cecanong.