Com um trabalho diferenciado na área da Cultura, a Escola de Artes AJPS é uma referência nas atividades de formação artística em Mogi das Cruzes e região. O trabalho começou em 1995, como uma associação de moradores e um foco assistencial, mas a partir de 2001, as atividades culturais se sobressaíram. Saiba mais na entrevista com Rita Bonfim, coordenadora da escola, localizada no distrito de Cezar de Souza, em Mogi. 

“A partir de 2001, nós começamos a colocar as atividades culturais na AJPS. Tivemos um projeto chamado Projeto da Gente Jovem que era para trabalhar com adolescentes do Conjunto Jefferson. Eram 25 adolescentes e a nossa tarefa ela era reingressar esses adolescentes à escola. Eles terminaram o projeto, continuaram frequentando a AJPS porque queria fazer dança. Fomos dando atividades, trazendo professor de dança de rua, depois um professor de teatro, e o grupo foi ficando. A gente entendeu que a nossa vocação era mais para a arte do que para o assistencialismo”, contou Rita. 

O foco da AJPS são crianças e adolescentes, mas adultos também participam. No espaço, segundo Rita, são oferecidas aulas de música e de violão, formação completa de ballet, entre outros: “A arte circense é o nosso forte, então tem acrobacia solo, aérea infantil e avançada. Nosso teatro é maravilhoso também”. 

O trabalho que começou com 25 adolescentes, foi crescendo e chegou a 250. “Foi a necessidade dos próprios alunos que fez com que a gente fosse aumentando a grade e a oferta de atividades culturais. E aí, quando você tem essa variedade de atividades culturais é natural que você comece a produzir coisas, e nasceu a produção dos nossos espetáculos”, explicou a coordenadora. 

Para Rita, a maior carência na verdade é cultural: “A gente fala muito de todo tipo de carência que existe mesmo profundamente, mas existe uma carência cultural na cidade e isso independe da classe social. Não tem tantos espaços abertos, públicos de verdade, gratuitos e tudo, do modo que a gente oferece. Então é uma carência que eu acho que a AJPS supre bastante aqui na cidade”.

Desafios 

A Escola de Artes viveu um grande desafio no período da pandemia de Covid-19, com os trabalhos sendo realizados on-line. “Perdemos muitos alunos, e uma faixa que a gente fala que é o pulo do gato, quando o aluno está na adolescência e sai da escola para fazer faculdade. E aí vem a reposição dos alunos que estavam atrás e sobem, então nós não tivemos essa reposição. A gente ficou ali depois da pandemia por dois anos meio que patinando, porque não teve essa reposição para formação”, revelou Rita. 

A AJPS resistiu e as aulas continuaram, como todos os professores continuaram recebendo os pagamentos, apesar da saída também de patrocinadores. E manter os patrocinadores é um desafio contínuo da escola. “É sempre uma insônia, quem vai continuar apoiando, quem vai desistir de apoiar e quem é esse novo patrocinador que a gente precisa trazer para a escola, que aposta na cultura. Temos a saúde, educação, tem necessidade de vários outros segmentos da cidade, importantíssimo, e a cultura sempre fica por último, a gente tá na rabeira de tudo. Então, quem é esse patrocinador que vai ter essa sensibilidade de olhar para cultura e dizer: ‘Não, ali também precisa? A criança o adolescente precisa disso’. A criança e o adolescente precisam sair do celular, sair da tela do computador, lidar com pessoas, com atividades reais, é desafiador”, salientou a coordenadora. 

Talentos 

O cartão de visitas da AJPS, segundo Rita, são os talentos formados pela escola, que constroem carreiras nas artes, como Ana Victória Advíncola Roriz, que recentemente lançou o filme “Miragens”: “Tem a Ana Victória; o Eric Pimentel, que é um professor excelente também e já dançou no teatro municipal; a Marcela que está na Europa e é uma dançarina absurda que saiu ali do CDHU. Ela e o Eduardo estão dançando na Europa, então isso é muito gratificante”.

A entrevistada também cita Bel Alves, que fez mestrado em música e é conhecida em Mogi, o talentoso professor de violão que já foi aluno da escola. “Tem isso também, a maioria dos alunos vão protagonizando, porque eles acabam como professores. Eles vão evoluindo a ponto de não ter mais o que aprender, já pode ensinar e tem um lugar garantido. Tem uma turma ali reservada pra eles pra darem continuidade”.

Os jovens talentos também ajudam a renovar a AJPS, identificando diferentes soluções para as questões que vão surgindo. “Nos ajuda a ter esse olhar mais fresco de como lidar com adolescente. Mas, digo porque a gente fica se reciclando. São muito rápidas essas passagens, e os professores mais novos, já vem com esse olhar diferenciado, fresco”, avalia Rita. 

As trocas com as novas gerações são um dos pilares dos quase 30 anos da escola, segundo Rita: “Eu acho que é o que nos mantém, porque é preciso. Existe o cansaço, a desmotivação, os vários nãos que a gente tem, mas tem o contrário de tudo isso. Tem a criança que chega lá e fica encantada com o que acontece; tem o adolescente que tem um monte de planos que a gente não dá conta de realizar tanto o plano que tem, e tem um professor mais novo, que nos ajuda a desenvolver tudo isso”. 

Parceiros

A AJPS conta com parceiros fixos para manter suas atividades e também participa dos editais da Prefeitura, como, neste ano, o Programa de Fomento à Arte e Cultura (Profac) de Mogi das Cruzes. "Os editais ajudam muito a gente, ajudam o artista mogiano a desenvolver projetos. A gente está com dois, finalizou um e agora com o Profac de territórios, que ajuda na manutenção das aulas. É matando um leão por ano para conseguir se manter, e a gente depende muito dos editais.

Trajetória 

Formada em Jornalismo, o terceiro setor conquistou Rita. "A AJPS foi fundada por alguns aposentados da região do Jardim Juliana, em César. Eles resolveram fazer alguma coisa pela comunidade. O seu Sebastião era um desses aposentados, foi o primeiro presidente da associação, e eu moro na rua da associação. Eu passava ali e um dia ele me parou e falou: 'escuta você não quer vir trabalhar comigo? ... Eu tô chamando para você me ajudar a colocar mais coisas", contou. Ela adorou a ideia e está há 26 anos na escola.  

30 anos 

A expectativa da coordenadora é a melhor possível para as comemorações do aniversário no próximo ano: "Nossos 30 anos serão maravilhosos! A gente abre já as comemorações agora no final do ano com o nosso espetáculo anual. A gente vai fazer 'Morte e Vida Severina', do João Cabral de Melo Neto. A gente quis falar do Brasil profundíssimo para comemorar os 30 anos da associação. Nós temos um documentário em andamento sobre a AJPS e as pessoas que fizeram a AJPS, os alunos que passaram... Já tá sendo produzido para estrear no próximo ano também. Tudo que a gente fizer em 2025, vai ser o máximo, vai ser grandioso".

Destaque também para o evento recente "Tapiocas". "É um evento enorme que a gente faz na rua, em frente a escola. A gente ocupa com aéreo e faz todas as apresentações na rua. É um evento que movimenta muito as famílias e é uma mostra de resultados que a gente chama pro pai entender o que que tá sendo feito, para o aluno entender o tamanho daquilo, para as turmas se conhecerem. É importante isso porque no final do ano a gente coloca em cena mais de 100 pessoas, dentro de um espetáculo, com um roteiro, com começo, meio e fim", destacou Rita. 

"Morte e Vida Severina" será encenado no Theatro Vasques, na região central de Mogi, com a qualidade que faz da AJPS referência. "Os espetáculos da AJPS são de extrema qualidade. São qualificados demais artisticamente, porque o roteiro é muito bem embasado,  tem começo, meio e fim, tem sentido. A música é feita ao vivo, então o espetáculo é uma experiência, é muito bom. Eu sou muito suspeita em falar, mas são espetáculos diferenciados aqui na cidade. Nós produzimos 'Frida', 'Mãe Coragem', todos com esse grau de dificuldade elevado", disse a entrevistada. 

Cultura 

Rita falou ainda sobre a falta de valorização para quem está formando artista. "A nossa veia é essa, a nossa vocação: a formação cultural e artística daquelas crianças e adolescentes caso eles queiram. Mas, mesmo que a gente não forme um artista, estamos formando um cidadão diferenciado, mais sensível e atento. Tenho certeza que as pessoas saem melhores, com um olhar mais respeitoso sobre o ser humano, com o próximo. Eu acho que é o maior trunfo da AJPS. Independente de formar artistas, forma pessoas melhores e eu acho que a cidade precisava apostar mais nisso". 

A AJPS segue seu trabalho, oferecendo oportunidades para que crianças e jovens experienciem várias atividades artísticas, como destaca Rita: "A criança precisa se expressar, mesmo a mais tímida tem que achar um canal para se expressar, e a gente dá essa oportunidade. Acho que o poder público, os possíveis patrocinadores, e até os colegas que trabalham no meio mesmo, poderiam olhar com um pouquinho mais de carinho para um trabalho de Formação artística, que é difícil, que é penoso, mas que ensina o básico. Quando o artista está pronto e vai para outro lugar, mas ele foi sensibilizado em algo". 

Kátia: Não saiu do nada.

Rita: não saiu do nada, quem faz isso aqui é a nossa escola.

Kátia: E quem quiser colaborar, se tornar voluntário, como é que faz? 

Rita: Olha, nós temos um canal no Instagram que é bastante ativo e pode nos procurar pelo Instagram @ajpsescoladeartes e a gente precisa muito involuntários, mas a gente precisa muito de patrocinadores. A gente precisa muito de pessoas que valorizem a arte, que valoriza a cultura de fato, que acredita em criança e adolescentes. Assim, tem muito a oferecer e precisa muito desse olhar de que eles têm que ter uma atividade extra de tudo que eles fazem. Eu acho que é uma aposta preciosa, apostar na arte, apostar na cultura... A gente precisa muito patrocínio, a gente precisa muito de apoio para continuar aberto, porque temos várias atividades para o ano que vem, mas a gente precisa muito de apoio para que essas atividades aconteçam", finalizou. 

Saiba mais informações pelo site https://ajpsescoladeartes.wixsite.com/escoladeartesajps e pelo perfil no Instagram @ajpsescoladeartes.