Mais do que um trabalho de assistência social voltado para crianças e jovens, é a educação o ponto de partida das ações desenvolvidas pela Sociedade de Apoio a Meninos, Meninas e Adolescentes (SAMMA), que há mais de 30 anos está presente em Itaquaquecetuba. O coordenador da Samma, David Sousa, é o entrevistado do novo episódio do Café com Mogi News, realizado em parceria com a Padaria Tita.
Um grupo de voluntários estrangeiro deu início a Samma, em 1992, com a doação de uma chácara no Jardim Maragogipe, e desde então é desenvolvido um trabalho social com crianças e adolescentes. "Nós trabalhávamos como uma Casa Lar, uma casa de acolhimento, que tinha mãe social, pai social, e até hoje nós recebemos, de vez em quando, a visita de alguns que tiveram sua transformação e que às vezes não tinham um lugar para estar, para morar", contou o coordenador. Desde 2017, a Samma se tornou um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, atendendo atualmente 170 crianças e jovens de 6 a 17 anos.
"É um projeto que tem base na assistência social, mas como um diferencial a Samma trabalha muito a questão educacional também. Todos esses anos nós sempre olhamos para o lado educacional, então, onde tinha um braço social tinha um braço educacional, porque nós acreditamos que a transformação social ela não se dá só no social, é preciso que a educação esteja junto, que a criança esteja na escola, que tenha a importância da educação como um todo", destacou o entrevistado.
Na Samma, as crianças e jovens participam de oficinas também com atividades culturais como capoeira, música, dança, artes. Inclusive foi a música que levou David para a entidade em 2017. "Trabalho com música já há alguns anos. Na verdade, desde que tinha 10 anos de idade eu comecei a aprender música. Hoje eu sou pedagogo e tenho experiência com gestão e com implementação de serviços.
Projetos
Entre os projetos desenvolvidos pela Samma, está o 'Fazer & Aprender', "A gente desenvolve dentro da política de assistência social para promover o desenvolvimento integral, principalmente, visando a proteção social das crianças. Então as crianças estão no nosso espaço, elas não estão na rua, não estão com más companhias. No nosso espaço, elas desenvolvem a questão cidadã, elas têm apoio pedagógico de Português e Matemática, com projetos incríveis e criativos que profissionais da pedagogia e da educação desenvolvem com eles", explicou David. Destaque também para as aulas de capoeira, esportes e o espaço de arte e cultura na Samma.
A sede da entidade também conta com uma horta. "A ideia é que as crianças e os adolescentes façam parte do desenvolvimento dessa horta. Essa horta é servida no almoço das crianças. Nós servimos almoço para as crianças nos dois períodos, tanto de manhã, quanto à tarde. A gente acaba vendendo alguns legumes, algumas coisas que saem da horta para a comunidade do nosso território", contou.
Para os adolescentes de 13 a 17 anos é desenvolvido recentemente o projeto 'Jovens Visionários'. "O intuito principal é que o adolescente não saia do nosso projeto para trabalhos que não vão valorizar ou que não possam dar tanta perspectiva de um futuro. Então, dentro do nosso projeto, esse jovem tem a oportunidade de aprender informática, de aprender educação financeira, de se desenvolver socialmente, a questão cidadã, do ser político, que é muito importante. A gente fala muito sobre política, principalmente questões sociais, que sempre estão envolvidas, as questões sobre violências", explica o coordenador da Samma.
Pelo projeto com os jovens é trabalhada a política que vai além dos partidos. "O ser político. A gente conversa isso sempre com eles. A gente já conseguiu, por exemplo, melhorias na escola do bairro através de uma discussão e diálogos dos nossos 'Jovens Visionários'. Eles trouxeram para a gente várias reclamações e em uma reunião, em uma roda de conversa, nós falamos: 'como política, como ser político e comunidade, vocês podem, como grupo, reivindicar soluções na escola'. Fomos com eles na escola, conversamos com diretor, vice-diretor e conseguimos melhorias para eles", contou David.
"Esse projeto dos 'Jovens' é muito importante, a gente tem valorizado e temos tido um olhar muito importante para ele, e gostaríamos muito até de através desse canal, com vocês aqui, pedir para que empresas que estejam pensando em contratar jovem aprendiz, que entre em contato com as ONGs, porque assim como nós, eu acredito que tem outras ONGs que têm esse olhar com o adolescente, com o jovem, e essa preocupação: 'nossa, esse jovem está comigo há quatro ou cinco anos, eu não posso deixar ele sair para um emprego informal, para uma condição de trabalho que não seja adequada'", ressaltou o pedagogo.
O trabalho da Samma vai além das crianças e jovens. "Não dá para trabalhar a criança e o adolescente sem falar em trabalhar com a família. A família é parte fundamental nesse processo de transformação. A gente faz reuniões mensalmente com eles para que para que a família saiba o que nós temos trabalhado. Não adianta eu falar para a criança não ser violenta ou trabalhar a questão da violência, se ela vê violência doméstica toda semana na casa dela. Então, é algo que a gente precisa trabalhar e que precisa ser falado", disse David.
Parcerias
Para manter as atividades rotineiras, a Samma conta com o apoio da Fundação Francisco e Clara de Assis, que tem base em São Paulo e parcerias com organizações do Brasil, como do Nordeste. "A gente fez um encontro de 'Jovens Visionários' na nossa chácara no começo do ano com as turmas de São Paulo, e foi incrível", destacou David. A fundação presta assessoria e ajuda em documentações, além do apoio financeiro. "É a grande parceira que a gente tem, mas, o projeto sempre precisa de mais. Ela (Fundação) nos ajuda com uma parte do financiamento, e a outra parte do financiamento são eventos que nós fazemos, um 'Arraial da Samma', que está para acontecer agora em julho", completou.
A Samma também realiza outros eventos e recebe doações através da Nota Fiscal Paulista. "Se você tem a nota fiscal paulista e coloca o nosso CNPJ, você consegue fazer uma doação para a nossa ONG. Toda organização social ela não tem, isso é importante destacar. Nenhuma organização social tem fim lucrativo. Nada que entra para a ONG é destinado para nossos diretores, que são todos voluntários", explicou David. A entidade contou com voluntários do Rotary para a manutenção de computadores recebidos por doação e também os instrumentos musicais usados nas oficinas foram doados. "Eu tenho muito orgulho de falar, que eu tenho crianças que saíram de lá bateristas, guitarristas e hoje estão tocando nas suas igrejas, estão tocando com seus amigos, é um orgulho enorme", salientou o coordenador.
Terceiro setor
Para David, trabalhar no terceiro sempre foi seu objetivo desde a faculdade de Pedagogia. "Eu quero saber como as pessoas aprendem, como que eu posso auxiliar na transformação, este sempre foi o meu objetivo. E, trabalhar no terceiro setor sempre foi um desafio, principalmente pela questão financeira, porque as pessoas falam que no terceiro setor é onde paga menos, é onde sempre precisa de doações, tem questões que envolvem questões políticas e o terceiro setor sempre precisa de apoio", disse. "Quando os nossos políticos olham para o terceiro setor e falam: 'vamos investir na transformação social' é algo que é muito necessário", complementou.
Para o pedagogo, investir no social é investir na prevenção de situações de risco: "É nós investirmos numa sociedade melhor, uma sociedade comprometida com a educação, com a transformação da vida das pessoas. E quando a gente investe no terceiro setor, nós estamos pensando no futuro e no presente também. Estamos pensando no presente, porque, investir na proteção social é uma pessoa a menos nas drogas".
Samma
A transformação social através da educação é o principal objetivo da Samma. "A gente acredita muito na educação social. Nós acreditamos muito que a transformação não tem só o social, mas ela tem uma transformação educacional também. Então, estamos investindo muito em apoio pedagógico para as crianças e para os adolescentes, na formação cidadã. E nós acreditamos que o futuro tende a alinhar mais ainda a educação com o social, não só você ter a assistência social caminhando sozinha, a educação caminhando sozinha, mas, ter uma articulação entre esses dois universos, que são base para a transformação social de um indivíduo. Nós olhamos o ser, olhamos a pessoa no individual dela, trabalhamos o coletivo, mas trabalhamos as suas questões sociais junto com as questões educacionais", reforçou o coordenador.
Destaque também para o estímulo ao protagonismo. "Nós trabalhamos e visamos sempre nos nossos diálogos, nas nossas rodas de conversa, o protagonismo social. Essa criança, esse adolescente, ele como um protagonista, ter notas melhores na escola, um protagonismo na comunidade como se tem na escola. O protagonismo social é um caminho para a transformação social dessas crianças e adolescentes", defendeu David.
O coordenador deixa um convite: "Eu gostaria de incentivar você para se envolver mais com as políticas de assistência social, de educação do seu município, que você possa procurar saber mais sobre as entidades sociais, as organizações sociais que desenvolvem um trabalho no seu município. Quais são elas? Onde elas estão? O que elas fazem? E aquela que você se conectar de certa forma, você possa apoiar, seja com voluntariado, porque as organizações sociais dependem de trabalhos voluntários, seja com doações financeiras".
"A Samma está sempre de portas abertas para receber quem quer que seja para conhecer o nosso projeto, conhecer como a gente faz o nosso projeto. E se você gostar e quiser ser apoiador, colaborador da Samma, tem o nosso site, o nosso Instagram e o nosso WhatsApp, entre em contato com a gente. A gente vai receber vocês de portas abertas", finalizou.
Para quem se interessar em colaborar pode entrar em contato pelo site samma.org.br, Instagram (@sammaong), ou pelo telefone (11) 4641-5952.
Conteúdo produzido pelo Grupo Mogi News. A reprodução só é permitida citando a fonte “Grupo Mogi News”. Plágio é crime de acordo com a Lei 9.610/98