O pedagogo Rogério Davi dos Anjos, presidente da Associação Nova Esperança (ANE) e coordenador da modalidade de futebol feminino da Prefeitura de Mogi das Cruzes, é o entrevistado do Café com Mogi News desta terça-feira (7). Ao lado da esposa Andreia, ele fundou a entidade mostrando que com uma bola e poucos recursos era possível transformar a vida de crianças e adolescentes do bairro Nova União, em Mogi. Depois de 25 anos, a entidade cresceu, e tem como um dos destaques o futebol feminino. Atualmente são atendidos crianças e adolescentes em núcleos espalhados pela cidade e um em Biritiba Mirim, comandado pelo professor Marcelo. 

Rogério nasceu em Mogi, mas passou parte da infância em Alagoas. Quando voltou para a cidade aos dez anos, aprendeu a ler a partir do trabalho desenvolvido na creche Nossa Senhora do Socorro, mantida pelas irmãs da Associação Missionária Catequista do Sagrado Coração de Jesus. O tempo dele e da esposa era dividido entre a escola e as atividades oferecidas na creche, que inspiraram o casal a fazer a diferença na vida de crianças e adolescentes da comunidade do bairro Nova União onde moravam. O local tinha problemas de infraestrutura e não havia opções de lazer. 

O primeiro filho do casal, como brinca Rogério, foi a ANE, e já são 25 anos de trabalho, que aos poucos foi crescendo, e sendo destaque nas disputas da Liga Municipal e em jogos representando a cidade de Mogi.  “Nosso objetivo era dar ocupação e fizemos um campinho embaixo de uma torre de energia, e começamos a passar valores que aprendemos na creche do Socorro”, contou. Hoje, segundo ele, o projeto conta com diversos parceiros e disputa em pé de igualdade com escolinhas de futebol da cidade.  

Além de Rogério e a esposa, os núcleos da ANE contam com professores voluntários, como o Prof. Marcelo que atua em Biritiba Mirim há pouco mais de um ano e já reúne entre 60 e 80 alunos. Em Mogi, o casal Jane e André cuidam do projeto no Quatinga, e o prof. Felipe, que foi aluno da ANE e se formou em Educação Física, hoje é responsável pelo trabalho no Jardim Camila.   

Futebol feminino 

A história no futebol feminino, segundo Rogério, começou com a filha Andressa dos Anjos, que na adolescência foi impedida de continuar jogando com os meninos, e surgiu o desafio de criar uma equipe, que começou no campo Água Verde, no Jardim Camila. Hoje são 48 meninas treinando nos campos do Comercial, próximo da estação Estudantes, e no Centro Esportivo de Braz Cubas. Algumas atletas que passaram pelo projeto como Andressa, que já jogou na seleção brasileiro e hoje está no Real Brasília, alçam outros voos em grandes clubes e também fora do país. 

O trabalho no futebol feminino é realizado por Rogério e sua esposa, com atenção também ao emocional das meninas, que por vezes não têm incentivo das famílias para praticar o esporte. Rogério conta que, diferente dos meninos, elas são cobradas pelo desempenho na escola, nos afazeres da casa, em cursos, e falta esse foco direto no futebol, porém os pais foram percebendo o trabalho sério da ANE, oferecendo disciplina e postura para as atletas, sem que perdessem a feminilidade. "Se não vira uma jogadora, vira uma educadora física, uma cidadã mais focada", salientou. 

Para o presidente da ANE, a modalidade vem crescendo, com um trabalho mais profissional sendo feito pelas equipes, que estão começando a investir mais e acreditar nas atletas, mas ainda há muito para evoluir. Ele conta que falou para a filha não ficar sempre falando da questão do preconceito, que também é uma realidade vivida por ele por vir de uma comunidade de periferia, mas "fazer do limão uma limonada", e mostrar jogando bola do que ela é capaz. 

Rogério lembrou de uma final disputada pela equipe feminina, representando Mogi, há cerca de três anos contra o time do Audax, que estava pela cidade de Osasco em uma edição dos Jogos Abertos: "Viramos referência, ganhamos em cima do Audax que estava no Equador, em uma final dos Jogos Abertos. Sabíamos do potencial, eles mandaram 11 meninas e demos a vida. A nossa goleira salvou e ganhamos nos pênaltis. Foi um silêncio no último pênalti e quando fomos comemorar, a emoção foi tão forte, que todo mundo ia caindo e chorando". 

O sonho para o futuro da ANE, de acordo com Rogério, é disputar um Campeonato Paulista como projeto social, representando Mogi, o que ainda não foi possível. "Temos um trabalho pioneiro na cidade, praticamente o único, e precisamos estruturar, que seja uma responsabilidade de todos. Ocupar a criança e adolescente com esporte ajuda em tudo", destaca. Para ele, a proposta da entidade é ajudar as meninas a tornar o sonho mais real, a se preparar, se organizar para trabalhar com o talento que tem, e depois levar o nome da ANE para outros locais, dando esperança para outras meninas.   

Inclusão e desafios

O projeto está sempre aberto para novos alunos, a partir dos sete anos, com foco em crianças e adolescentes. "Nosso projeto social é de inclusão, temos muito cuidado com essa história de fazer peneira, isso é para equipe profissional para competição de alto rendimento. Nós temos que acolher todos que vem, a partir dos sete anos já tem escolinha, campeonatos que aparecem. 

Atualmente, segundo o entrevistado, a maior dificuldade é com o transporte da equipe. No caso de uma disputa no Campeonato Paulista, por exemplo, seriam seis jogos em casa e seis fora. Eles contam com uma barraca na festa no Clube de Campo e uma rifa que virou tradição no valor de R$ 2 que ajuda quem tem mais dificuldade com o transporte ou o custeio do uniforme. Conheça mais sobre o projeto no Instagram @ane_mogi e @ane_mogi_feminino  

Rogério deixou uma mensagem para as meninas que sonham em jogar futebol: "Continuem sonhando, busquem, batalhem, tem que se preparar antes, treine bastante. Não deixe que ninguém atrapalhe, vão existir barreiras e é normal, tem que enfrentar. Converse com seus pais, seus familiares, vá em busca dos sonhos". Ele conta que tinha o sonho de ser jogador de futebol, quando veio de Alagoas para Mogi, e hoje se realiza vendo a filha jogar e outras atletas realizando seus sonhos. "A gente se realiza vendo o outro realizado", disse. 


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