Mogi - O Café Com Mogi News apresenta neste novo episódio a entrevista com a percussionista Andressa Daniella, de Salesópolis. Andressa é integrante da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo e partiu nesta semana para a Alemanha, onde irá fazer um mestrado de quatro anos na Universidade de Berlim. Ela é a primeira brasileira a participar do prestigiado curso de pós-graduação em música.
Andressa falou no episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, sobre o começo de sua paixão pela música, os desafios para perseverar na carreira, o apoio da família e a importância de programas e políticas públicas voltadas ao incentivo à cultura, inclusive nas cidades pequenas. Saiba mais nesta entrevista especial.
Café com Mogi News: Como foi seu primeiro passo no mundo da música? Como você se viu gostando de música clássica, de orquestra?
Andressa Daniella: A música é um mundo enorme, com vários segmentos e cada um busca seu caminho nele. Eu escolhi orquestra. Desde pequena meus pais sempre gostaram de ouvir, não tinha parentes músicos, ou um projeto na minha cidade. Eu ouvia, mas não sabia como é que se chegava a aquele processo. A primeira vez que vi foi em 2012 em Campos do Jordão, por iniciativa do meu pai, e fiquei impressionada. Era a peça “A Sagração da Primavera”, e na hora me impressionou o naipe de percussão. Eu sabia tocar bateria, tocava desde os sete anos.
CCM: O amor à música surgiu naturalmente ou foi encorajado?
Andressa: Sempre me impressionou desde pequena. Meu primeiro contato com bateria foi com a banda de rock Scorpions, e comecei ali a juntar dinheiro para a minha primeira bateria. Fiz aulas com um professor da cidade, mas primeiramente desanimei por não ter onde tocar na minha cidade. Não há conservatórios, escolas especializadas ou um local para tocar.
CCM: Mas como começou essa relação direta com a música clássica? Como foi esse momento no Festival de Inverno de Campos do Jordão?
Andressa: Meu pai resolveu ir ao festival, levou a minha mãe e a mim. Era uma peça complexa e longa, e prestei atenção ao naipe de percussão. Não sabia como faria para chegar lá para tocar, mas foi um amor à primeira vista. Comecei a procurar na internet, descobri a graduação de música e um curso em São Paulo. Fazia o Ensino Médio na Etec de Mogi e, depois de terminar, me inscrevi no coro jovem da Orquestra Sinfônica. Minha mãe me levava e, em abril do mesmo ano, surgiu uma vaga na Escola de Música do Estado. Comecei a estudar em 2014, e a primeira aula foi um grande desafio. Eu não sabia os nomes dos instrumentos e comecei a reaprender, desde o simples ato de segurar uma baqueta. Aos 17 anos, me mudei para São Paulo para poder treinar todos os dias, pois era uma viagem de seis horas ida e volta para os ensaios e prática, de Salesópolis a São Paulo.
CCM: Após a graduação, começou uma nova jornada, com foco na Alemanha. Como isso se concretizou?
Andressa: A partir da graduação, fui me informando sobre o que eu deveria fazer na sequência, para poder chegar ao meu sonho que é tocar em uma orquestra sinfônica. O passo seguinte era a especialização e o mestrado, e o melhor lugar para se fazer é na Europa, onde nasceram todos os grandes compositores e a música clássica é amplamente apreciada.
CCM: Foram várias seletivas até sua escolha para o curso de mestrado. Como foram essas provas?
Andressa: Depois de me formar em 2019, comecei os preparativos para as provas, mas a pandemia veio e mudou tudo. O que me ajudou a me preparar mais, foi a professora Márcia que me mostrou onde poderia melhorar. A audição para o mestrado tem uma lista de músicas para tocar, mas foi pedida uma pré-seleção em vídeo de 20 minutos para os candidatos, além de toda a documentação traduzida. Foram dez candidatos para o teste em Berlim, e a viagem para a prova precisou de uma campanha de financiamento coletivo, onde pude contar com o apoio de muitas pessoas da minha cidade. Os examinadores eram da Orquestra Filarmônica de Berlim, que estavam nos meus primeiros contatos com a música clássica. Fiz a prova e aguardei o resultado que veio na sequência. Fui uma das quatro aprovadas, sendo a primeira brasileira a ser aprovada no mestrado em percussão, o que abre muitas portas.
CCM: Além da jornada, tem a parte do apoio da família e da comunidade, há toda uma construção de uma rede em torno.
Andressa: Este é um privilégio que eu tenho. Eles puderam me ajudar financeiramente dentro de seus limites, mas principalmente na inspiração em continuar quando achei que não conseguiria seguir em frente. Na graduação, busquei bolsas de iniciação científica e, mais tarde, concursos musicais que ajudaram a formar os fundos necessários. Nem sempre acredito em mim, mas minha família vê o potencial integralmente.
CCM: E agora são dois anos longe do país.
Andressa: A primeira coisa que pesa é a distância da minha família, e depois é como descobrir o que posso explorar por lá. Estou estudando alemão há três anos, mas é uma língua complexa. Você tem que se encaixar, mas foi assim em São Paulo: não sabia o que fazer, e fui fazendo aos poucos. Tudo é uma questão de gentileza.
CCM: Na região há muitos grupos e projetos de música. Na sua experiência, o apoio para o jovem que busca seguir a carreira musical pode ser melhorado?
Andressa: Temos projetos legais, mas concentrados nos centros urbanos. Cidades pequenas podem e devem ter acesso também - imagino o que poderia ter alcançado se tivesse tido acesso antes. Mogi das Cruzes possui bons projetos. A pessoa não assiste a uma orquestra por falta de acesso, falta mesmo um espaço para comportar uma orquestra maior.