Especialista em jornalismo de dados e transparência pública, a jornalista Jamile Santana começou sua carreira aos 17 anos no Grupo Mogi News, como secretária de redação e durante a graduação em Jornalismo, passou a integrar a equipe do jornal impresso, e atuou também pela TV Mogi News. Foi nessa época que surgiu o interesse pelo jornalismo de dados, e desde então ela vem se especializando, aprendendo e ensinando sobre a importância do acesso aos dados públicos para uma informação de qualidade e para fomentar a cidadania. Mãe de Antonio e Símon, ela é ativista da Lei de Acesso à Informação (LAI) e autora do anteprojeto de regulamentação da lei em Mogi das Cruzes, que foi utilizado na íntegra pela Prefeitura, e como projeto de lei, que estabelece a diretrizes da legislação em Mogi, encaminhado no dia 12 de julho à Câmara Municipal. Nesta entrevista especial ao Café com Mogi News, Jamile, fala de sua trajetória no jornalismo, e de temas como fake news, cidadania e projetos.

Café com Mogi News: Como foi sua trajetória no Grupo Mogi News?
Jamile Santana: Comecei aqui no Mogi News. Eu tinha 17 anos quando entrei para trabalhar com atendimento ao cliente. Na época, a equipe da redação sabia que eu queria ser jornalista e criaram uma vaga que não existia que era secretária de redação. Eu fui ficando e aprendendo a fazer jornalismo aqui com excelentes profissionais que passaram por essa casa. A minha carreira durou 8 anos aqui, fiquei até abrir a TV Mogi News, onde também trabalhei. Aprendi muito na TV, e ai depois sai para alçar voos e me especializar em jornalismo de dados e transparência pública, que hoje é o meu foco de trabalho.

CMN: Foi no Mogi News que surgiu sua paixão pelo jornalismo de dados?
Jamile: Foi um negócio muito louco porque quando eu comecei a cobrir Cidades tinha todo mês essa matéria para fazer de como estava o mercado de emprego e desemprego. A gente cobria dez cidades, então tinha que coletar dez planilhas, juntar as dez cidades de interesse. No começo de carreira, eu levava às vezes o dia inteiro só para fazer essa matéria. Em meados de 2010, o jornalismo de dados estava começando no Brasil, que era uma coisa que já era muito praticada fora, no exterior, e grupos de jornalista de jornais maiores estava começando a trazer as técnicas para o Brasil. Eu descobri que esse processo que eu fazia, de ir lá captar informação, analisar e conseguir fazer uma reportagem, tinha nome, era um processo de dados. Eu comecei a procurar oficinas para facilitar na verdade o trabalho, aí descobri o jornalismo de dados, que tem uma gama de oportunidades e ainda continuo aprendendo. Com o tempo eu consegui trazer para as redações por onde eu passei um pouquinho dessa tecnologia. 

CMN: Como você avalia a importância do jornalismo de dados?
Jamile: Os dados podem revelar muitas coisas que a gente não está vendo, tanto quanto o perfil de uma determinada população, por exemplo, uma determinada política pública, quanto à ausência do dado. Quando a gente não tem informação sobre uma coisa isso também diz muito, isso também é uma boa pauta.

CMN: Com a proximidade das eleições, cresce a preocupação com as fake news, a desinformação. Como a gente pode trabalhar para levar uma informação de mais qualidade aos leitores?
Jamile: Como jornalista, o primeiro passo é sempre perguntar se a matéria que está sendo produzida, se ela está sendo produzida de um jeito muito fácil ou muito rápido. Acho que isso nos tempos de hoje é um pouco perigoso, a gente precisa sempre tentar se aprofundar um pouco mais para trazer embasamento para as coisas. A transparência nesse processo, inclusive no trabalho jornalístico pode nos ajudar a diminuir um pouco essa distância que a gente tá entre os leitores e a informação e a desinformação.

CMN: O que é a Lei de Acesso à Informação, o que ela prevê?
Jamile: A Lei de Acesso à Informação é a Lei nº 12.527, de 2011, já tem dez anos que foi regulamentada, é uma lei federal, e ela é uma lei que, apesar de outras legislações já terem previsto que qualquer cidadão tem direito a ter acesso à informação pública, essa é a lei que deixa claro como isso deve ser feito e quem pode ter acesso. No resumo, ela diz que a transparência do dado público é a regra, e o sigilo é a exceção. Ela deixa claro também como cada órgão tem que atender esse cidadão quando ele tem uma pergunta. E a pergunta às vezes é uma pergunta básica: ‘Eu quero saber qual é o tamanho da fila da creche na escola que eu estou esperando uma vaga’. Você pode perguntar e você pode ter essa resposta.

CMN: Como a lei está caminhando em Mogi das Cruzes?
Jamile: Eu trabalho com ativismo da Lei de Acesso à Informação desde 2016 que foi quando eu comecei a fazer pedidos de acesso, porque foi quando a prefeitura criou o sistema, aliás muito tardiamente. Aí comecei a estudar também, a me especializar em como implantar a Lei de Acesso em municípios. No ano passado eu escrevi um projeto de lei que regulamenta a LAI, entreguei na mão da coprefeita (Priscila Yamagami Kähler), na época porque eles assinaram uma carta compromisso nas últimas eleições de que olhariam para isso. Aí ficou tramitando durante este último ano internamente na administração municipal para entender como aquele projeto de lei se encaixa na estrutura que tem hoje. Fiquei sabendo que o prefeito entregou já para os vereadores o projeto de lei. Então nos próximos meses ele pode ser votado, e vamos pressionar os vereadores para que seja aprovado e a gente tenha a Lei de Acesso, finalmente, dez anos depois regulamentada em Mogi.

CMN: Como está sua carreira? Quais são seus projetos?
Jamile: Hoje eu trabalho com alguns projetos. Eu trabalho na Énois, que é uma associação de jornalismo, que trabalha treinando jornalistas para cobrir diversidade, e faço outros trabalhos em jornalismo de dados como na revista AzMina, onde eu fiz um levantamento sobre feminicídio durante a pandemia. Depois eu fiz um projeto sobre violência e política de gênero nas redes sociais nas últimas eleições, que foi ganhador do Prêmio Claudio Abramo – Jornalismo de Dados ano passado, porque é urgente a gente discutir discurso de ódio e de gênero sobretudo. 

CMN: Quais seus próximos projetos?
Jamile: Eu tenho um projeto independente de jornalismo de dados, o Painel Jornalismo de Dados, que está um pouco parado, porque nesse meio tempo eu tive dois bebês, mas é a ideia é aproveitar esse monte de dados que a gente tem aí público, e produzir um material disso para que os cidadãos conheçam esses dados e a própria Imprensa se anime, faça pautas e o negócio vá crescendo. Além da produção de conteúdo, a gente também já ofereceu curso gratuito de Lei de Acesso. A ideia é retomar para a gente passar a palavra da LAI, com a gente fala, e ter mais gente interessada em dados públicos.